Estadão

Onda de calor se intensifica e sul da Europa se prepara para novos recordes de temperatura

O sul da Europa está se preparando para uma segunda onda de calor em uma semana, com Espanha, Itália e Grécia, juntamente com Marrocos e outros países mediterrâneos sendo informados de que recordes de temperatura podem ser quebrados na terça-feira, dia 18.

Um novo anticiclone que entrou na região vindo do norte da África no domingo (16) pode elevar as temperaturas acima do recorde de 48,8°C (120F) vistos na Sicília em agosto de 2021, e segue a onda de calor da semana passada.

A Agência Espacial Europeia (ESA) disse que a próxima semana pode trazer as temperaturas mais altas já registradas na Europa em uma onda de calor chamada Caronte, em homenagem ao barqueiro mitológico grego que transporta almas para o Inferno.

A crise climática está sobrecarregando o clima extremo em todo o mundo, gerando desastres mais frequentes e letais, de ondas de calor a inundações e incêndios florestais. Na segunda-feira passada, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) disse que o planeta experimentou os dias mais quentes já registrados nos primeiros dias de julho, depois de um junho que foi o mais quente já registrado.

Um estudo publicado recentemente na revista <i>Nature</i> disse que mais de 60.000 pessoas morreram por causa das ondas de calor do verão do ano passado em toda a Europa, com as maiores taxas de mortalidade observadas na Itália, Grécia, Espanha e Portugal.

Na Europa, onde o aquecimento avança duas vezes mais rápido que a média mundial, segundo os cientistas, vários países enfrentam temperaturas extremas.

A Itália enfrenta temperaturas recordes e níveis de umidade excepcionalmente altos no domingo, no que o site meteorológico <i>ILMeteo.it</i> descreveu como uma "tempestade de calor", e a situação se intensificará com a chegada na segunda-feira, 17, de outro anticiclone que levará os termômetros a possíveis máximas de 47° C nas áreas do sul da Sardenha e 45° em partes da Puglia e Sicília.

As temperaturas em Roma, lotada de turistas, devem subir para 42°C ou 43°C na terça-feira. Dezesseis cidades italianas, incluindo Roma, Florença, Bolonha, Bari, Cagliari e Palermo, foram colocadas em "alerta vermelho" pelo Ministério da Saúde, o que significa que o calor é tão intenso que representa uma ameaça à saúde de toda a população.

Entre os visitantes estava François Mbemba, um padre congolês de 29 anos. Ele disse que em Roma "faz mais calor que na África". "O calor continua durante a noite e é difícil dormir. E como estamos vestidos de preto, suamos como se estivéssemos no inferno".

As temperaturas noturnas permanecem acima de 20°C. A Itália é um dos países europeus mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, com eventos extremos nos últimos 13 meses responsáveis por mais de 50 mortes.

Luca Mercalli, presidente da Sociedade Meteorológica Italiana, disse ao jornal britânico <i>The Guardian</i> que "não há dúvida" de que as ondas de calor estão ligadas ao aquecimento global. "É muito mais fácil conectar uma onda de calor ao aquecimento global do que, digamos, uma inundação", acrescentou. "As inundações têm um componente ligado às alterações climáticas, mas não sabemos até que ponto, por isso é mais delicado dizer que uma inundação é causada por alterações climáticas. Com o calor, não há dúvida – é o fenômeno mais direto que podemos perceber."

A ESA disse: "Itália, Espanha, França, Alemanha e Polônia estão enfrentando uma grande onda de calor, com temperaturas do ar que devem subir para 48°C nas ilhas da Sicília e da Sardenha".

O Marrocos está entre os países do norte da África com temperaturas acima da média, com máximas de 47°C em algumas províncias registradas neste fim de semana – mais típico de agosto do que de julho – gerando preocupações com a escassez de água, disse o serviço meteorológico.

Na ilha canária de La Palma, mais de 4.000 pessoas tiveram de ser retiradas às pressas de suas propriedades depois que um incêndio florestal varreu o noroeste da ilha.

O governo regional disse no domingo que colocou as ilhas vizinhas, incluindo Tenerife e Gran Canaria, em alerta para o risco de incêndios florestais, com 4.500 hectares de terra e várias casas já destruídas em La Palma.

"O fogo avançou muito rapidamente", disse Fernando Clavijo, presidente do governo regional das Ilhas Canárias. Ele culpou "o vento, as condições climáticas e a onda de calor que estamos vivendo" pela rápida propagação das chamas.

Na Grécia, o calor escaldante obrigou a Acrópole a fechar temporariamente entre as 11h30 e as 17h30 para proteger os turistas de temperaturas perigosas, risco de desidratação e insolação.

Temperaturas implacáveis também estão sendo sentidas nos Estados Unidos, onde as condições sufocantes no fim de semana colocaram mais de um terço dos americanos sob alerta de calor extremo. O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS) informou que uma onda de calor que se estende da Califórnia ao Texas deve atingir o pico durante um "fim de semana extremamente quente e perigoso".

Esperava-se que o parque nacional do Vale da Morte – muitas vezes entre os lugares mais quentes da Terra – igualasse ou superasse seu recorde de calor de 54,4°C. Las Vegas pode experimentar três dias consecutivos com máxima de 46°C, o que aconteceu apenas uma vez antes, informou o NWS. Phoenix, que sofreu um período de duas semanas com temperaturas acima de 43°C com pouco alívio à noite, esperava seu fim de semana mais quente do ano.

O sul da Califórnia está combatendo vários incêndios florestais, incluindo um no condado de Riverside, que queimou mais de 3.000 hectares (7.500 acres) e motivou ordens de retirada da população. Mais ao norte, o governo canadense disse que os incêndios florestais queimaram um recorde de 10 milhões de hectares este ano, com mais danos esperados. (Com agências internacionais).

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