Estadão

Ministério da Justiça barra extradição de espião russo para EUA

O Ministério da Justiça negou um pedido dos Estados Unidos para extraditar o espião russo Serguei Vladimirovich Cherkasov, preso em 4 abril de 2022 após ser deportado da Holanda com um passaporte falso brasileiro. O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional considerou improcedente a solicitação dos EUA, feita em abril, por entender que Cherkasov já é alvo de pedido de extradição homologado pelo Supremo Tribunal Federal, só que para a Rússia.

A extradição de Cherkasov para seu país de origem foi homologada pela Corte em 17 de março. No entanto, a execução do pedido está suspensa em razão de uma previsão da Lei de Migração – quando o extraditando estiver sendo investigado, no Brasil, por crime punível com prisão, a entrega voluntária só pode ser executada após a conclusão do processo.

Segundo o ministro da Justiça Flávio Dino, ele seguirá preso no Brasil.

A entrega do espião russo foi autorizada pelo ministro Edson Fachin. Ele condicionou a extradição à conclusão de um inquérito da Polícia Federal em São Paulo que mira atos de espionagem no Brasil atribuídos a Cherkasov, além de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

O espião russo foi condenado a 15 anos de prisão por uso de passaporte e documentos falsos, em junho, pela Justiça Federal em São Paulo. Desde dezembro ele está em um presídio federal de Brasília.

O pedido de extradição dos EUA foi apresentado em 25 de abril. Cherkasov atuou durante anos como espião do serviço de inteligência militar da Rússia, o GRU, nos Estados Unidos, fingindo ser um estudante brasileiro. Ainda viveu como estudante brasileiro na Irlanda.

No entanto, antes da solicitação dos Estados Unidos, a Rússia já havia pedido a entrega voluntária do acusado. Moscou alegou que ele é um traficante de drogas condenado que fugiu para não cumprir sua pena em território russo.

Cherkasov vivia como Victor Muller Ferreira em São Paulo. Ele usou identidade falsa brasileira para entrar na Universidade John Hopkins, nos EUA. Depois, conseguiu estágio no Tribunal Internacional em Haia, mas lá foi foi descoberto e deportado para o Brasil. No Tribunal Internacional, ele acessaria informações sobre investigações relacionadas a crimes de guerra praticados pela Rússia no conflito com a Ucrânia.

Como mostrou o <b>Estadão</b>, usava esconderijos para deixar dispositivos eletrônicos e mensagens que poderiam ser recuperados por outros integrantes de sua organização. Um desses esconderijos era uma ruína localizada dentro de uma mata às margens da Rodovia Raposo Tavares, em Cotia, região metropolitana de São Paulo. O local foi descoberto porque no celular de Cherkasov havia rascunhos de mensagens acompanhadas de um mapa com fotos do local.

Em audiência, o russo admitiu a identidade falsa e disse que queria ser deportado o quanto antes. "Gostaria de permanecer em silêncio. Eu só gostaria de reiterar que eu quero ser extraditado para a Rússia. Eu concordo com as acusações que a Rússia fez e pretendo responder aos fatos dos meus crimes (…) o mais rápido possível", disse.

Segundo seu passaporte original, Cherkasov nasceu em 11 de setembro de 1985. Nos documentos falsos brasileiros, aparece a data de 4 de abril de 1989 como nascimento. Como nome da mãe, ele usou a identidade de uma mulher que morreu em março de 2010 e que não teve filhos.

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