Após ter superado o nível de R$ 4,82 pela manhã, o dólar à vista arrefeceu o ritmo de alta ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quarta-feira, 2, cotado a R$ 4,8055, avanço de 0,33%. Apesar da expectativa em torno da decisão Comitê de Política Monetária (Copom) no período da noite desta quarta, em especial em relação à magnitude do esperado corte da taxa Selic e ao placar da votação, o ambiente externo ditou a direção da moeda norte-americana por aqui. Operadores comentam, contudo, que o aumento das apostas de redução da Selic em 0,25 ponto porcentual no mercado de juros futuros pode ter contribuído para a moeda brasileira ter desempenho nesta quarta bem superior a de seus pares.
Como na sessão da terça-feira, o real sofreu com a onda de fortalecimento da moeda norte-americana e queda dos preços das commodities metálicas e do petróleo. Dados acima do esperado do emprego no setor privado americano sugerem espaço para um aumento residual dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), aposta que pode ser reforçada com a divulgação, na sexta-feira, 4, do relatório oficial de emprego (payroll) de julho. O rebaixamento do rating dos Estados Unidos pela Fitch na terça à noite também trouxe certo desconforto aos investidores e estimulou a busca por proteção.
Após encerrar julho com baixa de 1,25%, o dólar já acumula valorização de 1,61% nas duas primeiras sessões de agosto. Operadores afirmam que tesourarias aproveitaram a recuperação da moeda americana no exterior para realizar lucros e recompor parcialmente posições cambiais defensivas. Divisas latino-americanas de juros altos, que lideram ganhos frente ao dólar no ano, estão nos holofotes com as dúvidas sobre o tamanho do afrouxamento monetário esperado em países da região.
O diretor de Investimentos na Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, observa que o real experimentou uma depreciação mais aguda na terça, em meio a apostas até então majoritárias de que o Copom começaria o ciclo de redução da taxa Selic com um corte de 0,50 ponto. Jolig lembra que o peso chileno apresentou desvalorização expressiva após o BC do Chile optar, na última sexta-feira, por uma redução de sua taxa básica 1 ponto porcentual, para 10,25% ao ano, enquanto analistas esperavam corte de 0,75 ponto.
"O mercado começou a ficar com o receio de que com um corte da Selic em 0,50 ponto o real poderia sofrer muito. O fato de a aposta em 0,25 ponto ganhar força nesta quarta ajudou o real a ter desempenho melhor que seus pares", afirma Jolig. "Eu acho que há espaço para o BC reduzir bastante os juros. Se optar por 0,25 ponto, será um corte hawk . O carrego vai continuar elevado e há espaço para o real se apreciar com um BC mais lento no ajuste da política monetária", diz.
O economista-chefe para América Latina da Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, afirma que apesar do impacto recente de fortalecimento do dólar no exterior e alta dos juros dos Treasuries sobre a taxa de câmbio, o destino do real está muito atrelado no curto prazo à decisão do Copom. No médio prazo, Abadia vê um quadro "amplamente favorável para o real", que pode levar a taxa de câmbio no próximos meses para níveis não vistos desde o início de 2020. "Em particular, a aprovação da reforma tributária pode se um forte catalisador para influxo de recursos, estendendo o rali do real em direção a R$ 4,50", afirma o economista, em relatório.
Segundo Abadia, a inflação comportada também dá suporte ao real, uma vez que permite ao Copom intensificar o ritmo de redução de juros, ajudando no esforço de consolidação fiscal. A melhora na perspectiva de crédito, as reduções de prêmio de risco e menor ruído político "vão provavelmente ajudar" a compensar a diminuição no "carry", que, ainda assim "vai continuar generoso".