Vacinas não têm poder de controlar a epidemia isoladamente, afirma Dimas Covas

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse, em entrevista <i>Broadcast Político</i>, do sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que as vacinas, por mais eficientes que possam ser, não controlarão sozinhas epidemias de covid-19. Ele é um dos mais ferrenhos defensores de um rígido isolamento social, por ao menos quatro semanas, para frear curvas epidemiológicas do coronavírus. Mas admite a dificuldade de se adotar uma medida radical como essa, diante das pressões política e social.

Na avaliação do médico, o Brasil continuará a ser "o campeão mundial" de mortes por covid-19 e o ano de 2021 será marcado pela vacinação e luta contra a pandemia sem um controle centralizado e federal para o combate à doença. "Vacinas, isoladamente, não vão controlar a epidemia. A percepção é de que, antes de tudo, devemos combater a epidemia e usar os mecanismos básicos, com recursos que podem diminuir a mortalidade. Vacina não tem poder de acabar com vírus", disse ele.

Para Covas, o ritmo de geração de novas e sucessivas gerações de variantes do coronavírus é muito elevado neste momento. "E pode ser que a resposta vacinal às primeiras variantes não sejam mais efetivas", disse. "Muito provavelmente o coronavírus vai se comportar como vírus da gripe, ocorrendo de forma endêmica com picos sazonais. É possível que tenhamos necessidade de vacinações sazonais".

<b>Negacionismo</b>

Dimas Covas disse ainda que o negacionismo é um grande aliado do vírus causador de mais de 340 mil mortes. Para ele, além do presidente Jair Bolsonaro, parte da sociedade brasileira também tem culpa, ao negar a gravidade da doença, a efetividade de medidas de isolamento e adotar tratamentos sem eficácia.

"Estamos perdendo para o negacionismo. O grande aliado do vírus hoje e a grande contribuição para o pico explosivo é o negacionismo. A sociedade também está escolhendo isso", disse. "O líder, governante, tem uma parte importante (de culpa), inclusive na educação sanitária e, talvez, o maior exemplo vem do maior mandatário da nação", completou na entrevista.

O pesquisador atribuiu a declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, o motivo de o presidente Jair Bolsonaro ter se transformado de negocionista a defensor da vacina. "Ponto que foi o marcador foi quando o ministro Guedes, o todo-poderoso da Economia, disse que a economia só voltaria a crescer se houvesse vacinação em massa. Foi importantíssimo uma alta autoridade da República admitindo que a vacinação era necessária, não por motivos sanitários, mas por motivos econômicos".

Para Covas, o negacionismo do governo federal desde o início da pandemia também causou gargalos para a produção da Coronavac, principal imunizante aplicado hoje no País, desenvolvido pelo Butantan e a chinesa Sinovac para o tratamento da covid-19. A dificuldade de importação do insumo farmacêutico tem prejudicado a produção da vacina, mas ainda não houve paralisação no fornecimento.

"O Butantan, em julho do ano passado, ofereceu 100 milhões de doses ao Ministério da Saúde, repetiu a oferta em agosto, setembro, e outubro. Fomos contratados em janeiro. Não é possível decidir uma produção tão complexa como a da vacina em dois ou três meses", explicou.

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