Sucesso absoluto na TV e também nos quadrinhos, <i>As Tartarugas Ninja</i>, ao que parece, nunca conseguiram encontrar um caminho nas telonas – pelo menos até agora. Donatello, Leonardo, Michelangelo e Rafael estrelaram uma série de filmes, desde a ousada adaptação dos anos 1990 até a versão mais bruta de Michael Bay, e nunca foram tão bem quanto neste novo <i>As Tartarugas Ninja: Caos Mutante</i>, lançado nesta quinta-feira, 31.
O filme parece beber da fonte de diversas coisas que deram certo ao longo dos últimos 30 anos, período em que as Tartarugas lutaram para encontrar relevância nos cinemas. Traz um pouco da "sujeira" do filme de 1990 (ainda que sem qualquer traço da violência inesperada do longa) enquanto se aproxima do visual do filme <i>As Tartarugas Ninja: O Retorno</i>, de 2007. E, é claro, também bebe de duas fontes externas: a estética de <i>Homem-Aranha no Aranhaverso</i> e a temática do preconceito de filmes da Pixar.
"O objetivo era fazer um grande filme, não um grande filme das Tartarugas Ninja. O fato de serem as Tartarugas Ninja e tratar desses personagens, essa tradição e esse mundo, é secundário em relação ao objetivo de apenas fazer algo que seja, espero, comovente, divertido e artisticamente ousado", resume o diretor Jeff Rowe ao site Uproxx.
<b>HISTÓRIA BEM CONTADA</b>
E é justamente isso que faltava para o quarteto: um longa que soubesse contar uma história. E, por mais simples que seja a trama do filme, ele faz isso muito bem. Assim como um filme de origem de super-herói, nós, espectadores, somos convidados a conhecer a trajetória das tartarugas desde o início, quando foram contaminadas por um produto radioativo, até o treinamento com Splinter e, enfim, chegando ao mundo real com a ajuda da jornalista April ONeil – que, aqui, é só uma adolescente.
O filme é, também, muito mais urbano do que todos os que vieram após o longa dos anos 1990. Abraça de novo a cidade de Nova York, com seus bueiros soltando fumaça e a pizza de US$ 1, enquanto lida com um preconceito insistente.
Curiosamente, porém, ele se afasta de muitas explicações da trama original, criando uma nova lógica para a criação das tartarugas. A história é mais simples e menos ousada, em comparação com a que foi contada nas HQs dos anos 1980, mas faz sentido. Afinal, em uma animação como esta, não caberia toda a violência anárquica dos personagens, nem qualquer traço de violência. O roteiro de Rowe, Seth Rogen e Evan Goldberg simplifica bastante, mas a essência está ali e serve como origem.
<b>PRECONCEITO</b>
Além disso, a trama se aproxima bastante de histórias da Pixar que tratam de preconceito e aceitação. Espectadores mais velhos, assim, podem se frustrar com uma história que parece ter pouco a contar, apostando no seguro. Mas, pelo menos, é muito mais direta.
Em termos visuais, fica evidente como o longa-metragem quis brincar com a estética vista em <i>Homem-Aranha no Aranhaverso</i> e <i>Gato de Botas 2</i>: há muitas referências aos quadrinhos e a paleta de cores do filme é surpreendentemente escura – algo raro de se ver em uma animação do tipo.
Mostra que Rowe, diretor ao lado de Kyler Spears, realmente não teve medo de sofrer uma rejeição das crianças. E deu certo: já lançado em vários países no mundo, As Tartarugas Ninja: Caos Mutante já arrecadou US$ 135 milhões.
O filme, em resumo, é uma mistura bem-feita de referências. Uma salada que, no final, se revela simples, sem nenhum ingrediente que não conhecemos, mas que vai bem no sabor e no visual. Retoma o caos dos anos 1990, a estética dos filmes de animação modernos, a mensagem da Pixar, uma história de origem de super-heróis e algumas outras pequenas referências que pipocam aqui e acolá – na entrevista ao Uproxx, Rowe chega a citar até mesmo Batman.
É, quem sabe, um novo começo para as Tartarugas que, depois de anos correndo atrás da lebre de ouro do cinema, parecem estar se aproximando da chegada.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>