Estadão

Paulinho relembra trajetória no Corinthians e diz que considerou se aposentar no ano passado

Com problemas físicos desde que retornou para sua segunda passagem pelo Corinthians, o volante Paulinho quase encerrou a carreira no ano passado, após romper o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. O dilema foi revelado pelo ídolo corintiano em um texto no qual relembra sua trajetória, publicado no site The Players Tribune, para celebrar o aniversário de 113 anos do clube alvinegro.

"Na minha primeira lesão contra o Fortaleza, em 2022, e quando eu digo primeira lesão, eu quero dizer primeira mesmo – primeira da vida -, eu fiquei dez dias sem sair de casa. Não queria saber de nada, nem de ninguém", diz. "Pela segunda vez na carreira, eu tinha decidido que iria desistir do futebol. Mas foi justamente porque não botei o pé na rua durante aqueles dez dias que mudei de ideia. Olhando meus filhos, eu entendi que não podia parar. Afinal, qual mensagem eu estaria passando para eles?", completa.

O meio-campista de 35 anos demorou para se recuperar, mas conseguiu voltar a jogar na atual temporada. Em maio, durante partida com o Argentinos Juniors, em Buenos Aires, sofreu um novo rompimento ligamentar no mesmo joelho e está sem atuar desde então. Dessa vez, contudo, não pensa em parar, embora não seja certo se continuará no Corinthians, uma vez que tem contrato até o final deste ano. "Todos os dias eu sinto saudades de jogar, de entrar na Arena lotada, mas estou mais calmo agora. Tenho certeza. Vou voltar. Recuperado como atleta e mais forte como filho, marido, pai, ser humano"

Muito antes da lesão sofrida em 2022, Paulinho já havia pensado em abandonar o futebol, mas de forma precoce, quando ainda sequer havia vestido a camisa corintiana. "Todo mundo sabe dessa história. Entre 2006 e 2007 eu joguei na Lituânia e na Polônia e voltei decidido a largar o futebol. Nem quero falar disso, mas andar na rua e ver as pessoas imitando macaco para você é algo que destrói os sonhos de qualquer um", relembra.

Ele não parou. Após voltar da Europa, foi jogar no Pão de Açúcar – que mais tarde viria a se chamar a Audax – e, em seguida, no Bragantino, clube no qual chamou a atenção do Corinthians. Lá, foi treinado por Marcelo Veiga, ídolo do time de Bragança Paulista e morto vítima da covid-19 em 2020. O técnico ajudou Paulinho a "manter a cabeça no lugar" quando os rumores de que o Corinthians estaria interessado em contratá-lo.

"Eu não posso falar nele sem me emocionar, um grande cara que perdemos para a Covid, foi quem me ajudou nessa retomada da carreira. Ele era treinador do Bragantino e segurou minha ansiedade. Todo mundo sempre falou das explosões do Veiga, seu jeitão meio maluco, mas eu lembro dele com todo o carinho. Ele acolheu minha expectativa e me deu paz para continuar jogando. Acho que foi só por isso que tudo aconteceu como aconteceu", conta.

Para Po volante, a experiência vivida em Bragança Paulista foi a base para seu sucesso no Corinthians. "Respeito é o que eu tive pelo Bragantino e o que o professor Veiga teve por mim. Respeito é o que ia me fazer, pouco menos de dois anos depois, marcar o gol mais importante da minha carreira, escalar um alambrado e mudar minha vida para sempre".

O episódio do alambrado é emblemático. Foi a celebração do gol marcado na vitória por 1 a 0 nas quartas da final da Libertadores de 2012, contra o Vasco. "Foi quando apareceu aquele torcedor, o Lucas, e me abraçou. Ali eu abracei ele, mas também o menino que eu fui um dia. O menino que cresceu no Parque Novo Mundo, do outro lado da Marginal, e que conhecia bem a sensação de estar, ao mesmo tempo, perto e longe do Corinthians. Esse menino abraçou a Fiel inteira. E quer saber? Não basta qualidade técnica, dedicação ou sorte. Ninguém escala aquele alambrado, ninguém abraça um time e uma torcida de 113 anos, se não tiver respeito".

Paulinho também relembrou a conquista do título mundial de 2012, com a vitória por 1 a 0 sobre o Chelsea, graças a gol marcado por Paolo Guerrero, e disse que entrou em campo certo de que seria campeão. "Com toda sinceridade… Olhando pra trás, dá pra dizer que não dava para o Chelsea. Eu lembro bem do jogo contra o Al-Ahly. Foi quando a gente teve a noção exata da invasão corintiana em Yokohama. Foi uma coisa incomparável, um negócio de arrepiar. O estádio inteiro de preto e branco".
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