Duas comédias brasileiras chegaram ao mesmo tempo às salas de cinema na semana passada. A primeira, O Porteiro, com humor ingênuo e despretensioso, é inspirada na peça homônima que já atraiu mais de 100 mil pessoas aos teatros. A outra é TPM! Meu Amor, que reflete sobre os estereótipos que acompanham a mulher na tensão pré-menstrual. Esse lançamento simultâneo, em 31 de agosto, que poderia parecer despropositado por brigar por um mesmo espaço, tem motivo: as comédias nacionais estão lutando para retornar ao protagonismo. Antes da pandemia, afinal, filmes de comédia enchiam as salas de cinema.
Minha Mãe É Uma Peça, Minha Vida em Marte, De Pernas pro Ar e outras franquias eram quase garantia de salas lotadas. De lá para cá, duas coisas mudaram. Primeiramente, chegou a pandemia e o hábito de consumir filmes mudou, com mais pessoas se voltando para o streaming. Em um segundo momento, também a partir de 2020, acabou a chamada "cota de tela", aquele espaço na programação garantido para exibição da produção nacional.
Com isso, os filmes de agora precisam competir com as produções dos EUA – com grande diferença entre orçamentos de marketing e divulgação. A aposta dos diretores, produtores e distribuidoras é o boca a boca. "Agora é torcer para as pessoas irem ao cinema ver O Porteiro. Elas precisam ir. Se for, confio no boca a boca", explica Paulo Fontenelle, diretor da comédia. "A gente reza para ter esse primeiro público."
O Porteiro, por exemplo, acompanha um dia na vida Waldisney (Alexandre Lino), o porteiro de um prédio que passa poucas e boas no decorrer de 24 horas – precisa ajudar uma senhora a dar remédio para os cachorros, lidar com o vizinho que não toma banho e por aí vai. Ele toca fundo no coração daqueles que se identificam com uma família também de origem simples, como é a do protagonista, mas tenta unir várias tribos ao redor dessa figura que está no cotidiano de milhões de pessoas. "Dá até para assistir com a avó", resume Paulo.
<b>Estresse</b>
TPM! Meu Amor, enquanto isso, tem um tema bastante feminino: os efeitos da tensão pré-menstrual na vida de Monique (Paloma Bernardi), que tem de cuidar de coisas nada agradáveis nesse período de mais irritação e estresse.
Para a roteirista Jacqueline Vargas (Sessão de Terapia), é um filme que fala sobre a mulher, mas que faz sentido para a família toda. "Tem um apelo para o público masculino e para a família no geral", diz ela. "TPM afeta a família inteira."
Ou seja: enquanto a comédia nacional sofre para decolar de novo, a produção dos filmes tenta mostrar o caminho do cinema para mais pessoas. É a comédia como meio de união (e retomada das salas). "O humor é uma característica nossa, do povo brasileiro. Quando falamos de comédia, é aí que o povo se encontra. É aí que o cinema, que está pedindo socorro, entrega a alegria, que é o que as pessoas mais precisam neste momento", diz Alexandre Lino, o protagonista de O Porteiro, ao Estadão.
Outro ponto em comum nos dois filmes é a tentativa de fazer com que a comédia vá além do riso e que também faça pensar e leve à reflexão.
Por mais simples e ingênuo que seja, com traços até de Mr. Bean e Chaves, O Porteiro mostra traços de ingenuidade e simplicidade ao colocar um porteiro como protagonista – esse personagem que, em filmes, séries e novelas, geralmente é figurante ou coadjuvante com uma ou duas falas.
Já TPM! Meu Amor tem outra pegada: é mais rápido nas tiradas e tenta mostrar que não há problema em se falar de menstruação. "O humor é sempre uma rasteira", afirma a diretora Eliana Fonseca sobre o papel do riso no cinema hoje
O filme pode querer unir, fazer pensar ou ser apenas uma comédia despretensiosa para assistir no final de semana. De qualquer forma, O Porteiro e TPM! Meu Amor tentam não deixar em segundo plano esse gênero tão importante para o cinema brasileiro.
<b>Torcida</b>
O comediante Maurício Manfrini, conhecido pelo personagem Paulinho Gogó, que também está em O Porteiro, é quem dá o recado final e resume a torcida da turma do humor para que, enfim, a comédia nacional volte aos trilhos. "Fazer rir e dar risada facilita a vida da gente", diz ele. "Comédia é remédio para alma, corpo. Vivo de humor há tempos e sou feliz por causa dele. Espero de verdade que o público volte assistir a filmes de comédia nos cinemas, como sempre. Acredito de verdade que é a solução de muitos problemas", acrescenta ele.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>