Em dia amplamente negativo também em Nova York, o Ibovespa costurou a quarta perda consecutiva, hoje em grau maior, em baixa de 1,49% no fechamento, aos 114.193,43 pontos, agora no menor nível desde 5 de junho (112.696,32 pontos). Após ter oscilado ontem menos de 500 pontos entre a mínima e a máxima do dia, o índice da B3 operou em amplitude maior nesta terça-feira, dos 114.162,28 (-1,52%), do fim da tarde, até os 115.922,45, nível correspondente à máxima da sessão, na abertura.
O giro subiu a R$ 23,0 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cai 1,56%, passando hoje ao negativo no acumulado do mês (-1,34%), que termina na sexta-feira para a B3. No ano, o índice sobe 4,06%. Em Nova York, as perdas desta terça-feira ficaram em 1,14% (Dow Jones), 1,47% (S&P 500) e 1,57% (Nasdaq).
Apesar da alta de 0,7% para o Brent na sessão, perto de US$ 94 por barril, Petrobras (ON -2,76%, PN -2,31%, ambas nas mínimas do dia no fechamento) apararam os ganhos em torno de 5% que ainda sustentam no mês, alinhando-se na sessão a outro peso-pesado do Ibovespa, Vale (ON -1,56%), em dia também negativo para as ações de grandes bancos, como Bradesco (ON -1,45%, mínima do dia no encerramento; PN -1,06%), BB (ON -1,42%) e Itaú (PN -1,48%).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, as duas ações de Eletrobras (PNB +1,88%, ON +0,92%), após troca de CFO Chief Financial Officer, principal executivo da área de finanças bem recebida pelo mercado, além de BRF (+2,79%) e Casas Bahia (+1,69%). Dez ações da carteira Ibovespa, de 86 papéis, conseguiram fechar o dia com ganhos.
A Eletrobras informou nesta terça-feira que Elvira Presta renunciou ao cargo de vice-presidente financeira e de relações com investidores da companhia, e será substituída por Eduardo Haiama. O comunicado da companhia de energia não informa o motivo da renúncia da executiva, que ocupava o cargo desde 2019.
No quadro mais amplo, como pano de fundo para as commodities – hoje, o contrato futuro de minério de ferro mais negociado, para janeiro de 2024, fechou em baixa de 1,64% em Dalian, a US$ 115 por tonelada -, o mercado tem tomado nota de sinais cada vez menos animadores sobre o ritmo de atividade na China. Em evento no Rio de Janeiro, o economista Paul Krugman afirmou hoje que o tempo de "crescimento heroico da China acabou". O país é "um grande comprador de commodities, então, para países produtores, isso é um problema", acrescentou Krugman, agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 2008.
Segundo ele, os números mais recentes mostram que o crescimento sustentável da economia chinesa provavelmente está próximo de 3%, taxa muito inferior à vista nas últimas décadas, reporta do Rio o jornalista Matheus Piovesana, enviado especial do Broadcast.
"Mercado tem estado bem mais cauteloso com a questão da China, o que levou a ação da Vale a bater como ontem em mínima a R$ 65. O petróleo em baixa ontem também já tinha precificado uma demanda global mais lenta", diz Gabriel Mota, assessor de renda variável da Manchester Investimentos, destacando também, desde a segunda-feira, o ressurgimento, com intensidade, de temores em relação ao setor imobiliário chinês, segmento de peso significativo no PIB da segunda maior economia do mundo.
"Bolsa sofreu muito hoje, com o Ibovespa voltando para os 114 mil pontos, puxado bastante também por ações com exposição ao ciclo doméstico. Desde o exterior, mercado se mostra agora muito mais avesso a risco do que se podia perceber há algumas semanas, com muita deterioração no humor dos investidores", diz João Piccioni, analista da Empiricus Research. Ele destaca também a ata do Copom, divulgada na manhã desta terça-feira, que corroborou o tom cauteloso do BC, ratificando o ritmo de cortes da Selic em meio ponto porcentual até o fim do ano. Assim, com mais duas reuniões do Copom pela frente, em novembro e dezembro, a taxa básica de juros deve encerrar mesmo 2023 a 11,75% ao ano.
"Os juros de mercado, no exterior, continuam a subir. Os dados americanos estão vindo mais acomodados, o que contribuiu para uma volatilidade maior na sessão", acrescenta o analista, chamando atenção em especial para o VIX – métrica com base em opções sobre o S&P 500, tida como o índice do "medo" em Nova York -, que chegou a um nível na sessão desta terça-feira não visto, segundo ele, nem mesmo durante o spike de volatilidade observado em agosto. "Os investidores estão mais reticentes na alocação de recursos lá fora. Há uma aversão a risco global."
"Há piora expressiva na curva de juros, que vem da semana passada, o que tem se refletido em máximas desde a última crise financeira global, em 2007, para os rendimentos dos Treasuries", destaca Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, em referência ao tom hawkish , duro, da comunicação do Federal Reserve na decisão de política monetária da quarta-feira passada, dia 20.
"A preocupação ao redor do planeta é de que os juros sigam altos por mais tempo do que se previa anteriormente, e que isso cause recessão em nível global. Aqui no Brasil, Vale e Petrobras puxaram o Ibovespa para baixo, com as notícias sobre o setor imobiliário na China, que ainda preocupam os mercados", aponta Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. Ele destaca, em especial, o noticiário em torno da incorporadora chinesa Evergrande, em "dificuldade para organizar um processo de reestruturação da dívida, o que causa preocupação em relação ao crescimento do país".
Por sua vez, na maior economia do mundo, os dados dos Estados Unidos nesta terça-feira também não contribuíram para animar os investidores. "Houve piora da confiança do consumidor em relação à medição anterior, e o número de vendas de casas novas veio abaixo do esperado, refletindo as dificuldades enfrentadas pelo setor imobiliário também nos EUA, com taxas das hipotecas elevadas", diz Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos.
Nesse contexto menos favorável ao apetite por risco, o destaque da agenda doméstica nesta terça-feira – divulgado de manhã pelo IBGE -, o IPCA-15 referente a setembro, em linha com o consenso para o mês, foi uma nota de rodapé na sessão. "A inflação veio bem comportada no IPCA-15, e com abertura benigna. Serviços subiram um pouquinho, mas os núcleos de maneira geral desaceleraram, assim como o índice de difusão, o que é uma boa notícia", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.