Estadão

Cenário está mais benigno e por isso BC renovou corte de 0,5 ponto da Selic, diz Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou que o Brasil passou a ter um cenário econômico mais benigno, que abriu espaço para corte de juro e, por isso, houve mais uma redução de 0,50 ponto porcentual na Selic na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Entre os pontos de destaque, ele citou o controle da inflação. Segundo Galípolo, o comportamento, principalmente dos alimentos e dos bens industriais, vem sendo "benigno" e outras métricas, como a média dos núcleos e a inflação de serviços, também vêm desacelerando, ainda que mais lentamente.

O diretor do BC ainda pontuou que outras medidas, como a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária, também contribuíram para a melhora do ambiente econômico no País. "Foi uma agenda de simplificação do sistema tributário. Sempre digo que chamar nosso sistema tributário de sistema já é um elogio, porque ele não funciona de maneira sistêmica", afirmou.

Segundo Galípolo, a reforma tributária foi um grande êxito não apenas do governo, mas da sociedade como um todo. O diretor do BC também destacou o papel da Câmara e do Senado, que segundo ele, "abraçaram desde o início" o projeto.

<b>Critérios técnicos continuam</b>

O diretor de Política Monetária afirmou que a entrada de novos membros no board do Banco Central não altera os critérios técnicos da instituição. "O volume de informações e a qualidade do corpo técnico do BC ajuda muito. Você tem essa garantia e segurança por parte das decisões e, nesse primeiro momento, foi uma transição bastante suave", afirmou Galípolo, em referência à sua entrada no Banco Central, no último mês de julho.

Ele também agradeceu aos diretores que já estavam na instituição pela recepção que recebeu.

O diretor do BC ainda reforçou que avalia como "legítimos" eventuais questionamentos sobre como será o comportamento de cada um dos indicados para compor a autoridade monetária.

Galípolo ainda afirmou que capacidade do corpo técnico do BC tem sido "o grande fiador da estabilidade na condução da política monetária".

<b>Atividade</b>

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse também que o crescimento da atividade econômica brasileira maior do que o esperado, aliado a uma inflação mais baixa do que as previsões iniciais, não é uma "jabuticaba" brasileira, e também tem ocorrido em outros países, como os Estados Unidos.

"É um pouco contraintuitivo ao tradicionalmente esperado, mas o alento é que tem ocorrido também nos Estados Unidos", afirmou o diretor. "A ideia de ter um mercado de trabalho mais resiliente, como temos hoje, sem pressão inflacionária maior, acontece aqui e nos EUA", reforçou.

Por isso, defendeu Galípolo, boa parte das autoridades monetárias do mundo está na posição de aguardar os dados e analisar como cada um tem se comportado.

<b>China</b>

O diretor de Política Monetária do Banco Central detalhou a menção da autoridade monetária ao cenário internacional, sobretudo em relação à situação na China e dos Estados Unidos, no parágrafo de abertura da última ata do Copom.

Galípolo pontuou que a China passa por um momento de transição de um modelo de crescimento antes concentrado em construção e infraestrutura para algo "mais relacionado ao consumo interno e à tecnologia". "Isso tenderia, de acordo com as próprias autoridades da China, a uma redução no ritmo de crescimento, mas eles entendem que é um processo de transição", explicou, acrescentando que os comandantes da política monetária chinesa estão em um dilema entre a estabilidade financeira e o ciclo econômico.

Para Galípolo, esse quadro da economia chinesa pode ser aproveitado pelo Brasil, sobretudo em relação à comercialização de algumas commodities. "A China ao ter um padrão voltado para consumo doméstico, você tem uma demanda doméstica por parte da China por alimentos", destacou, reforçando que isso afeta diretamente o Brasil, que é um exportador de alimentos.

O diretor do BC ainda acrescentou que outro ponto da economia chinesa que afeta a economia brasileira é a exportação de minério de ferro. "Apesar da desaceleração da China, até algumas semanas atrás, o preço do minério de ferro não estava caindo, mas agora, mais recentemente, estamos assistindo a quedas nesses preços, o que tem refletido e machucado o câmbio de países exportadores", explicou.

Já sobre os Estados Unidos, o diretor do BC pontuou que houve recentemente uma abertura significativa nas taxas mais longas de juro, no período de 10 a 30 anos. Entre as explicações para essa abertura, Galípolo citou a necessidade de financiamento da dívida dos Estados Unidos e a dinâmica da emissão de títulos da dívida norte-americana.

"Os Estados Unidos estão com uma taxa de juro relativamente alta, e hoje há necessidade mais ou menos de US$ 200 bilhões de dólares de financiamento por mês por parte dos EUA. E isso demanda uma colocação de títulos com volume elevado. Essa oferta grande de títulos provoca uma desvalorização, que se reflete numa elevação de taxas", explicou o diretor.

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