Estadão

Elis volta aos palcos na transversal do tempo

É paradoxal dizer que Elis Regina, morta há mais de 40 anos, não é mais a mesma pessoa e artista de 10 anos atrás, quando o espetáculo <i>Elis, A Musical </i>estreou no Rio, mexendo com o mercado brasileiro de musicais, colocando o nome da cantora em evidência e conquistando inúmeros prêmios.

Porém, é verdade. Escrito por Nelson Motta, que foi amigo e namorado da cantora, e Patrícia Andrade, Elis manteve, nessa reestreia comemorativa, praticamente o mesmo roteiro e texto da montagem original. É nisso que o espetáculo parece, não superado, mas desconectado com o que houve de lá para cá.

Vejamos. Passada a estreia de 2013, Elis ganhou mais uma biografia, <i>Nada Será Como Antes</i> (2015), escrita pelo jornalista Julio Maria, que avança em questões pessoais para dar uma dimensão mais humana de Elis.

João Marcello Bôscoli, filho mais velho, também publicou o livro <i>Elis e Eu: 11 Anos, 6 Meses e 19 Dias com Minha Mãe</i>, relatando como teria sido o contato de Elis com a cocaína e, sobretudo, o que a levou a procurar a droga.

<b>LEGADO</b>

João Marcello e os irmão Pedro Mariano e Maria Rita sabem administrar muito bem o legado da mãe. Há sempre um produto novo sobre Elis no mercado – às vezes, até mais de um por ano.

O documentário <i>Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você</i>, do diretor Roberto de Oliveira, em cartaz atualmente, avança no relato do que então se conhecia do encontro entre Elis e Tom Jobim, em 1974. A cena do musical, de fato, mostra um resumo do que foi o estranhamento inicial entre dois dos maiores gênios da música brasileira, mas perde de lavada em emoção para a vida real retratada no filme.

A própria relação de Elis com os maridos Ronaldo Bôscoli (de 1967 a 1971) e Cesar Camargo Mariano (de 1971 a 1981) também se afastou da representação trazida pelo musical ou, por vezes, exageradamente dramatizada pela direção de Dennis Carvalho. Bôscoli, o cafajeste. Mariano, o compreensivo.

Recentemente, o <b>Estadão</b> mostrou que Mariano pode ter impedido o encontro entre Elis e Wayne Shorter em uma gravação. E há ainda o comercial em que ela foi a primeira artista no Brasil a ser recriada com o uso da inteligência artificial.

A história de Elis sempre avança. Nesse sentido, <i>Elis – A Musical</i>, parou no tempo. Não como um espetáculo antiquado, pois, em suas três horas, consegue fazer um apanhado geral da imagem da artista. Entretanto, o musical ficou, para usar o nome de uma canção que João Bosco e Aldir Blanc fizeram para Elis – na <i>Transversal do Tempo</i>… da cantora.

<b>Elis, A Musical. Teatro Sérgio </b>
Cardoso. R. Rui Barbosa, 153, Bela Vista. 5ª, 6ª e sáb., 20h30; dom., 16h. R$ 50/R$ 250. Até 5/11

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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