O mercado de juros manteve, nesta retomada dos negócios após o feriado de carnaval, o ritmo no qual encerrou a semana passada, com alta nas principais taxas em função do agravamento do risco político e fiscal, num dia também negativo para moedas emergentes, com o dólar local voltando a rodar acima de R$ 5,40. As preocupações em relação às negociações em torno do auxílio emergencial entre parlamentares e o Executivo se agravaram após a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), ligado à família Bolsonaro, num momento em que o mercado esperava que as atenções da Câmara estivessem voltadas à pauta econômica. Além disso, há cautela com o espalhamento das novas variantes do coronavírus pelo País, num contexto de notificação de falta de vacinas e "lockdowns" já em algumas cidades. Em meio a tantas incertezas, as taxas completaram hoje sua terceira sessão de alta seguida.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular em 3,415% e a estendida em 3,38%, de 3,367% no ajuste de sexta-feira, enquanto a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,967% para 5,06% (regular) e 5,01% (estendida). A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou em 6,63% (regular) e 6,58% (estendida), de 6,525%, e a do DI para janeiro de 2027 fechou a 7,30% (regular) e 7,25% (estendida), de 7,194% no ajuste anterior.
A cautela com a proposta do governo para o auxílio emergencial que preserve o teto de gastos cresceu, agravada agora pela prisão do deputado, na medida em que pode não apenas atrasar o andamento da agenda liberal, como também tem potencial, num cenário mais pessimista, de gerar uma crise entre Poderes. Silveira foi preso ontem à noite por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, após publicar um vídeo nas redes sociais com ofensas e ameaças aos ministros do STF.
"É a primeira grande bomba que cai no colo de Arthur Lira presidente da Câmara", disse o estrategista de renda fixa da Harrison Investimentos, Renan Sujii, lembrando que havia um certo otimismo de que a pauta econômica havia sido destravada com a aprovação do projeto de autonomia do Banco Central. "Estão tentando uma saída que não gere desgaste com o Supremo, mas há risco de respingo sim sobre a agenda econômica", disse. Ele destaca que a expectativa era de que hoje as negociações em torno do auxilio fossem retomadas, mas a prisão do deputado acabou deixando, na agenda parlamentar, tudo em segundo plano.
O noticiário da pandemia é outro fator a estimular a postura defensiva, na medida em que atrasos no calendário de vacinação e disseminação das novas variantes não só emperram a retomada como elevam a pressão por valor maior do auxilio emergencial e pagamento por mais meses. "O governo está lutando ainda contra a segunda onda, mas já está vindo a terceira", disse Sujii. O processo de vacinação no Rio, por exemplo, pode ser interrompido esta semana por falta de doses. Por outro lado, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o Ministério da Saúde deve receber na próxima terça-feira (23) novo lote com 3,4 milhões de doses da Coronavac.