O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu nesta quarta-feira, 18, que a autoridade monetária costuma ter uma postura mais conservadora porque os custos de errar para baixo na calibragem dos juros são maiores em países emergentes do que no mundo desenvolvido. "Quando você senta na cadeira do BC, você fica mais conservador quase que imediatamente. Em qualquer processo de ajuste monetário, há dois tipos de erro: fazer demais ou fazer de menos. O BC sempre navega entre esses dois erros, não querendo cometer nenhum deles. Mas no caso dos emergentes, o segundo tipo de erro tem um custo de credibilidade e um custo de reancoragem muito grande", afirmou, em palestra no Investment Managers Forum, promovido pelo banco Credit Suisse.
Segundo Campos Neto, no caso brasileiro, o BC até corre o risco de ser um pouco mais conservador porque sabe que o custo de um erro seria muito maior em termos sociais e de colapso de crédito. "Historicamente, é muito mais fácil para um BC de país desenvolvido ajustar um pouco de menos os juros, porque ele pode voltar depois e subir. A gente viu os exemplos recentes do Canadá e da Austrália, que pararam de subir os juros e depois tiveram que voltar. Se um emergente tivesse passado por isso, o custo seria muito maior", comparou.
<b>Meta fiscal</b>
O presidente do Banco Central disse ainda que é importante que o Brasil faça o "dever de casa" na política fiscal. Ele lembrou que o aumento dos juros globais parece responder, ao menos em parte, a preocupações fiscais com economias desenvolvidas.
Durante a participação em evento do Credit Suisse, o banqueiro central reconheceu dificuldades em temas como cortar gastos, mas defendeu que é importante perseverar no processo de ajuste fiscal. "Eu já estou aqui há quase cinco anos, já passei por dois governos e muitas histórias são parecidas, sempre olhando o que dá para cortar de gastos, e é super complicado, porque a gente tem um orçamento que é muito carimbado, muito indexado", comentou. "Acho que é importante persistir no fiscal."
<b>Desinflação</b>
Campos Neto acrescentou que o processo de desinflação do Brasil tem variáveis melhores do que o observado no mundo desenvolvido, como a dinâmica da inflação de alimentos e uma menor pressão de renda das famílias. "Não tem como dizer que ele vai continuar por muito tempo, não tem como fazer essa previsão. Mas eu acho que ele tem uma parte qualitativa melhor do que o que eu vejo em alguns países do mundo desenvolvido", afirmou.
Em termos globais, Campos Neto afirmou que é possível que a inflação mundial estacione em "patamar mais alto", acima do nível de 2% a 3%. "Pode ser que seja 3,5%, um pouco mais alto", comentou.
Segundo o presidente do BC, a grande questão é a taxa de sacrifício que as economias aceitarão para levar a inflação para a meta, e em qual período. Ele destacou que, quanto mais a desinflação é postergada, mais tempo é necessário viver com juros mais longos, o que causa aperto de liquidez.