O sindicato nacional dos servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o ASSIBGE-SN, emitiu nota nesta quinta-feira, 16, frisando que a repercussão recente de declarações do presidente do IBGE, Marcio Pochmann, sobre uma suposta mudança na comunicação de dados produzidos pelo instituto "parece precipitada", já que não houve anúncio oficial de "mudança concreta" no formato adotado atualmente. No entanto, o sindicato ressaltou que defende uma política de comunicação que contemple tanto o atendimento ao jornalismo profissional quanto à população.
Em palestra a funcionários do instituto, no último dia 24, Pochmann disse que "o IBGE produzia as informações e os dados, fazia uma entrevista coletiva e transferia a responsabilidade para o grande público através dos meios de comunicação tradicional" e classificava o modelo adotado como "comunicação do passado".
As declarações ocorreram durante a posse de Daniel Castro como coordenador-geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI), cargo com nível de diretoria, em cerimônia transmitida e gravada no YouTube. As falas do presidente despertaram temores de que a nova gestão possa conduzir mudanças na política de divulgações dos dados produzidos pelo instituto.
"Nos últimos dias, diversos veículos de mídia apresentaram matérias a respeito de uma suposta preocupação com possíveis mudanças na política de divulgações do IBGE. A ASSIBGE acredita que a política de comunicação do IBGE deve contemplar tanto o atendimento ao jornalismo profissional como a comunicação direta com a população. O Instituto dispõe de técnicas e procedimentos para tanto, que podem e devem ser aprimoradas contínua e cautelosamente pelos servidores envolvidos nessas tarefas. Uma comunicação transparente e isonômica é um componente necessário para um IBGE autônomo – como sempre defendido pelo sindicato", declarou a executiva nacional da ASSIBGE-SN, em nota à imprensa.
Segundo o texto, a repercussão se deu "a partir de uma frase isolada, que não chegou a constituir um anúncio de mudança concreta", parecendo, portanto, "precipitada".
"As notas repercutidas exprimem opiniões e avaliações de setores que tentam influenciar os rumos do IBGE criando tensionamentos entre a imagem do órgão, o corpo técnico e a sociedade", avaliou o sindicato, citando grupos que anteriormente teriam apoiado uma intervenção política no instituto pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e os cortes orçamentário e temático do Censo Demográfico 2022.
A entidade que representa os servidores do órgão disse que as supostas preocupações sobre uma ingerência política da atual gestão no trabalho técnico não são corroboradas pela maioria dos técnicos da instituição.
"A ASSIBGE avalia como preocupante que, novamente, uma polêmica sem materialidade ocupe tanto espaço, ao mesmo tempo que problemas estruturais do Instituto são invisibilizados. Atualmente, a maior parte da força de trabalho do IBGE, contratada em regime precário, recebe pouco mais do que um salário mínimo para coletar nas ruas as informações que se transformam nos números do PIB, inflação etc. O órgão perdeu 45% dos seus servidores efetivos em relação à 2010 e tem orçamento declinante em termos reais para realizar um plano de trabalho mais amplo. Esses riscos à qualidade e continuidade da produção de informações parecem não causar preocupação nos neo-defensores da autonomia", queixou-se o sindicato.
O ASSIBGE-SN lembrou que o instituto promove entre esta quinta e sexta-feira o encontro "Diálogos: IBGE 90 anos", em Parada de Lucas, na zona norte do Rio de Janeiro, com debates entre os servidores sobre o futuro do órgão.
"O sindicato reafirma seu compromisso histórico em defesa da autonomia técnica e de independência política e reforça sua pauta pela reestruturação do IBGE", reforçou o ASSIBGE, citando demandas como um concurso público para reposição dos cargos vagos, reajuste salarial para os trabalhadores temporários, plano de reestruturação de carreira, orçamento estável e adequado para projetos e pesquisas, processo de avaliação profunda e democrática da operação censitária de 2022, além da realização de eleições diretas para presidente e superintendes do instituto.