Estadão

Lula afirma que Sul Global não quer antagonizar com Norte e reitera críticas à ONU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a intenção do chamado Sul Global não é antagonizar com o chamado Norte, mas estabelecer uma "ordem justa", com direitos internacionais que valham igualmente a todos os países. Ao criticar o direito de veto dos integrantes permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o chefe do Executivo defendeu que as tragédias humanitárias atuais evidenciam a falência das instituições internacionais.

As declarações ocorreram em discurso do presidente na abertura da Segunda Cúpula Virtual Vozes do Sul Global na manhã desta sexta-feira, 17. A íntegra da fala foi divulgada pelo Palácio do Planalto. A presença virtual de Lula foi a convite do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, anfitrião do evento. A primeira cúpula se deu, igualmente em formato virtual, em 12 e 13 de janeiro deste ano.

"Há quem questione o conceito de Sul Global, dizendo que somos diversos demais para caber nele. Mas existem muito mais interesses que nos unem do que diferenças que nos separam", declarou Lula. "Assumir nossa identidade como Sul Global significa reconhecer que vemos o mundo de uma perspectiva semelhante."

O brasileiro reiterou a redução das desigualdades como "objetivo-síntese" do bloco, pois, caso contrário, segundo ele, o abismo entre países ricos e pobres só irá crescer. Para isso, o chefe do Executivo defendeu a reforma da governança global.

"As tragédias humanitárias a que estamos assistindo evidenciam a falência das instituições internacionais. Por não refletirem a realidade atual, elas perderam efetividade e credibilidade", comentou.

Sem citar especificamente a guerra entre o grupo Hamas e Israel, que teve início em 7 de outubro, Lula voltou a falar que o Brasil trabalhou "incansavelmente pela paz" no mandato à frente do Conselho de Segurança da ONU, em outubro. "Mas as soluções são reiteradamente frustradas pelo direito de veto", pontuou.

"Precisamos resgatar a confiança no multilateralismo. Precisamos recuperar nossas melhores tradições humanistas. Nada justifica que as principais vítimas dos conflitos sejam mulheres e crianças", acrescentou. "É preciso restituir a primazia do direito internacional, inclusive o humanitário, que valha igualmente para todos, sem padrões duplos ou medidas unilaterais."

"Como Sul Global, nossa intenção não é – e não deve ser – antagonizar o chamado Norte. Mas uma ordem internacional justa exige que todos tenhamos voz. E falaremos mais alto se falarmos juntos", finalizou o discurso.

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