A psicanalista Maria Homem de Mello se emocionou no final de um encontro na programação paralela da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP 2023) ao apresentar sua definição do que é saúde e se lembrar do psicanalista Contardo Calligaris, seu companheiro que morreu em 2021. Ela estava numa mesa na Casa Edições Sesc que tinha como tema Loucura na Civilização, título do livro do pesquisador britânico Andrew Scull.
Ao seu lado estavam Rachel Gouveia, professora da UFRJ e autora de <i>Na Mira do Fuzil: A Saúde Mental das Mulheres Negras em Questão</i>, que fez uma apresentação inspirada e inspiradora, e da jornalista Daniela Arbex, autora de <i>Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 Mil Mortos no Maior Hospício do Brasil</i>, que fez a mediação. Entre os temas em discussão estavam processos individuais e coletivos de sofrimento, racismo, acesso a tratamento, e até a proposta do prefeito Eduardo Paes de instituir um projeto de internação compulsória de usuários de drogas no Rio. A plateia era majoritariamente feminina e havia fila de espera para entrar.
"O adoecimento e o enlouquecimento têm ligação direta com as relações sociais. A pandemia colocou as pessoas em isolamento, as deixou sozinhas. Pessoas mais idosas adoeceram, os índices de demência aumentaram. Pessoas isoladas se separam, se violentaram, brigaram, conflitaram muito mais. Então, o que é saúde?", questionou. "É relação social de mínima qualidade. É você estar com quem você gosta, é você ser o que você gosta de ser. Parece pouco, né? Parece simples", continuou.
Uma pessoa da plateia boceja.
E Maria emenda, brincando: "Olha, está bocejando só de pensar na trabalheira que vai me dar saber quem sou eu, do que que eu gosto Isso já é difícil, e o terceiro momento da história é achar quem eu gosto de ficar perto de mim. Aí, gente, corta os pulsos. E quando você acha e perde? Aí você se mata." Ela ri. "Só fazendo piada mesmo. Estou em Paraty e dá uma saudade, gente, que é fogo. Enfim, viajei aqui", disse, emocionada. O público achou bonito.