Trump critica reação do Brasil à covid e volta a provocar manifestantes nos EUA

O presidente dos EUA, Donald Trump, citou o Brasil como mau exemplo na luta contra a covid-19. Aproveitando os números positivos sobre o emprego anunciados ontem, ele fez um discurso no jardim da Casa Branca para elogiar o próprio desempenho na crise e disse que tanto a pandemia quanto a onda de protestos contra a violência policial passaram – o que provocou uma reação imediata de líderes do movimento negro.

Trump comparou Brasil e Suécia, que não impuseram quarentenas rígidas. "Se você olhar para o Brasil, eles estão passando por grandes dificuldades. Eles vivem citando o exemplo da Suécia, que está passando por um momento terrível. Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido um milhão, talvez até 2 milhões ou mais de vidas", disse o presidente americano.

A Suécia, com 10 milhões de habitantes, registrou 4,6 mil mortes de covid-19, oito vezes mais que a Dinamarca e quase 20 vezes mais que a Noruega – ambos os vizinhos têm metade da população sueca e adotaram isolamento rígido. Nesta semana, o governo sueco admitiu que deveria ter adotado medidas mais duras de isolamento social para conter a pandemia.

No Brasil, as medidas de distanciamento foram determinadas por Estados e municípios, não pelo governo federal. Apesar de ser considerado um aliado de Jair Bolsonaro, Trump vem adotando um discurso crítico em relação ao País. No final de abril, o americano já havia alertado sobre o avanço da pandemia no Brasil. Em maio, ele suspendeu os voos do País, citando a gravidade do caso brasileiro.

A coletiva de ontem foi convocada para Trump poder se vangloriar dos 2,5 milhões de empregos criados em maio – o desempenho econômico é considerado crucial para sua reeleição em novembro. Mas o presidente abandonou o teleprompter e disparou insultos de improviso. A declaração mais questionada foi quando ele se referiu a George Floyd, negro morto por policiais brancos em Minneapolis, na semana passada – o que deu origem à onda de protestos que completou ontem 11 dias.

"Espero que George esteja olhando para baixo agora e dizendo que isto que está acontecendo é algo grandioso para nosso país. É um grande dia para ele. É um grande dia para todos", disse o presidente, aparentemente se referindo ao aumento no número de empregos.

Em seguida, a repórter Yamiche Alcindor, da PBS, que é negra, questionou se o presidente não faria algum pronunciamento para tratar do racismo nos EUA. Trump levantou a cabeça e instintivamente colocou o dedo indicador no nariz, fazendo o gesto de silêncio. Depois, disse que o melhor remédio contra o racismo é a recuperação econômica.

As últimas semanas foram desastrosas para o presidente americano. Apesar de criticar a situação do Brasil, os EUA ainda são o país mais afetado do mundo pela covid-19, com quase 2 milhões de casos e 110 mil mortos. As medidas de isolamento afetaram a economia e o número de desempregados passou de 40 milhões em abril.

Além das crises econômica e de saúde pública, na semana passada, a morte de Floyd causou uma tensão social, com protestos contra a violência policial e o racismo nos EUA. Em vez de colocar panos quentes, Trump optou por uma resposta dura e ameaçou enviar tropas para reprimir as manifestações nos Estados. Em Washington, ele militarizou a repressão e foi criticado por importantes ex-generais e militares do alto comando das Forças Armadas.

Por isso, os números de ontem, que indicaram uma recuperação do emprego em maio, contribuíram para o tom otimista do discurso do presidente. "Tínhamos a maior economia da história do mundo. E essa força nos permitiu vencer esta horrível pandemia, que já foi praticamente superada. Estamos indo muito bem", disse. "Tomamos todas as decisões corretas."

Trump falou por cerca de uma hora. Assim que terminou, começaram as críticas – principalmente à referência feita a Floyd. O democrata Joe Biden, seu adversário em novembro, classificou o discurso de "desprezível". Brandon Gassaway, porta-voz do Partido Democrata, disse que a mensagem do presidente "era um tapa na cara".

Alguns republicanos também criticaram Trump, entre eles Michael Steele, que é negro e foi presidente do Comitê Nacional Republicano. "O discurso não apenas soa mal, mas beira a blasfêmia diante do que aconteceu com Floyd", disse Steele. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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