O Brasil assume nesta sexta-feira, 1º, pela primeira vez, a presidência rotativa do G-20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia e a União Africana. O mandato tem duração de um ano, e o Brasil coloca três eixos prioritários para o período: a inclusão social e a luta contra a desigualdade, a fome e a pobreza; o combate às mudanças climáticas; e reforma das instituições de governança global.
A agenda do governo brasileiro dá continuidade à atuação no exterior do País no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula tem cobrado maior participação de países emergentes nas decisões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, reforma do Conselho de Segurança da ONU e mais recursos para fundos de investimentos para energias renováveis.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Lula falou sobre o que espera da atuação do Brasil à frente do bloco. "Temos o compromisso de colocar o combate à fome e a extrema pobreza no centro da agenda global", disse o presidente. Em seguida, Lula também destaca os desafios de convencer os países ricos a enfrentar a crise climática e de realização de reformas na governança global.
A agenda ambiental, cara às potências ocidentais, é o principal ponto de contato hoje entre a diplomacia brasileira e americanos e europeus. De acordo com o professor de relações internacionais da ESPM-SP, Gunther Rudzit, caso Lula pretenda reconstruir pontes após derrapadas na diplomacia e se equilibrar entre os polos antagônicos do G-20, deve reforçar esse elo. "O governo brasileiro sabe que dar atenção para os temas ambientais agrada aos Estados Unidos e aos europeus", explicou.
O País será responsável por organizar reuniões técnicas e conferências ministeriais que terminarão na 19.ª Cúpula do G-20, que acontecerá em novembro de 2024 no Rio de Janeiro. Lula orientou a diplomacia a aproximar as duas frentes de atuação do bloco e apresentar projetos concretos para ter impacto direto na sociedade. Uma das iniciativas é a aliança global contra a fome, pronta para ser lançada.
As duas frentes de atuação que o governo brasileiro pretende aproximar são as chamadas Trilhas de Sherpas, que reúne emissários dos executivos de cada país e tem o papel de elaborar políticas, e a Trilha das Finanças, na qual se discute com representantes das equipes econômicas o financiamento a essas políticas e temas macroeconômicos mundiais.
Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty. e Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, assumem a direção da Trilha de Sherpas e Trilha das Finanças, respectivamente.
Os desafios brasileiros incluem o aumento da fome no mundo e a escassez de recursos em projetos de erradicação da pobreza. Segundo a ONU, 780 milhões de pessoas sofrem com a fome e apenas 32% do financiamento necessário para lidar com essa questão está disponível. A falta de financiamento suficiente também é um dos maiores desafios para o enfrentamento da crise climática, e cada vez mais o Sul Global tem enfatizado a necessidade de reforma na governança global para países que emergiram nas últimas décadas terem mais poder de decisão.
<b>G-20</b>
Atualmente, as nações que fazem parte do G-20 respondem, por cerca de 85% do PIB global, dois terços da população mundial e 75% do comércio internacional. Criado em 1999, na esteira de uma sequência de crises econômicas (México, em 1994; Ásia, 1997; e Rússia, 1998). Fazem parte da organização os seguintes membros: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Coreia do Sul, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos, além da União Europeia.
O grupo se concentrou nos primeiros anos em questões macroeconômicas e depois expandiu a agenda para temas como desenvolvimento sustentável, saúde, agricultura, mudanças climáticas, transição energética e combate à corrupção.
O comando do G-20 chega às mãos brasileiras num momento em que o bloco está marcado por divisões entre um bloco ocidental, composto por americanos e europeus, e um emergente, com russos e chineses. Importante na reação à crise de 2008, o bloco hoje perdeu relevância diante das tensões crescentes provocadas, de um lado pela guerra na Ucrânia, e de outro pela ascensão da China.
Ainda de acordo com analistas, essa perda de protagonismo do fórum deve tornar inócua a tentativa de Lula se cacifar como líder global – algo que ele tem buscado, sem sucesso, desde que retornou ao governo. "Lula vai buscar mostrar que é uma liderança global, mas o G-20 não tem sido muito efetivo, então não acredito em nada muito concreto que o Brasil possa fazer", completou Rudzit.