A segunda edição do festival Primavera Sound em São Paulo, que aconteceu no sábado, 2, e no domingo, 3, no Autódromo de Interlagos, foi mais madura. Para começar, os headliners eram veteranos. The Cure, The Killers, Pet Shop Boys e Beck, com uma média de idade maior do que o usual para o festival alternativo surgido na Espanha, atraíram um público igualmente mais velho para um festival pop brasileiro.
Outro amadurecimento notável foi da organização, que passou por um teste em dois dias de calor intenso. A produção do evento foi da T4F, responsável pela turnê de Taylor Swift, em que uma fã morreu em um dia quente no Rio. Naquela ocasião, a entrada com garrafas de água não era permitida e o copo custava R$ 8.
O esforço foi visível. Houve distribuição farta de água pela organização (seguindo a determinação da Secretaria do Consumidor do Ministério da Justiça), avisos frequentes nos telões para que o público se hidratasse e recados nas grades para evitar queimaduras.
O último amadurecimento foi um processo que acontece há anos nos grandes festivais brasileiros: a falta de preconceito e a abertura para todo tipo de som, sem separação de estilos por dia. Nesse quesito, o Primavera, com a curadoria mais cabeça aberta do que os outros colegas de Interlagos, segue campeão, mesmo que um pouco mais conservador em relação ao ano passado. Ainda é um festival para quem gosta de música.
Uma prova dessa liberdade é a mistura de perfis de artistas nos 10 melhores shows de 2023 segundo as críticas do <b>Estadão</b> ao longo do evento.
<b>The Killers une anos 1980 com anos 2000</b>
Apesar de ser uma banda indie, os Killers passam longe do esnobismo. Atendem as pessoas sedentas por uma "nostalgia dupla" do início dos anos 2000, época que consagrou a banda, e das influências dos anos 1980. O destaque vai para Spaceman, Runaways e Read My Mind. As lágrimas se misturaram com o suor no coro de "I ve got soul, but I m not a soldier", de All These Things That I ve Done.
<b>Cansei de Ser Sexy resgata nonsense</b>
O nonsense despreocupado é o que tornou o CSS tão singular. A energia no sábado, 2, foi tamanha que o figurino de entrada não durou quatro músicas e começou a se desfazer. Lovefoxxx trocou de roupa no palco e leu uma carta aberta. "Quem aqui já viveu uma história na Rodoviária do Tietê? Quem chegou aqui em um ônibus Cometa só com um sonho na mala?", disse, enquanto admitia que "saiu de um buraco há um ano" e "é bom recomeçar".
<b>Marisa Monte presta homenagem a Rita Lee</b>
No sábado, 2, Marisa Monte trouxe um repertório especial, emocionante, e uma participação surpresa arrebatadora. Para homenagear Rita Lee, convidou Roberto de Carvalho para Doce Vampiro, Mania de Você e Já Sei Namorar. Foi a primeira apresentação do músico num palco desde a morte de Rita Lee. Quem melhor que Marisa homenagearia o casal mais apaixonado que a música brasileira já viu?
<b>Carly Rae Jepsen foi além do megahit</b>
A canadense provou que sua carreira não se resume ao megahit Call me Maybe. Da primeira à última música, não houve um refrão ileso pelo coro da plateia, que cantou, dançou e pulou junto com a artista. Logo na segunda música, Run Away with me, a euforia de Carly no palco foi transformada literalmente numa explosão de confetes, acionados outras duas vezes ao longo do show.
<b>MC Bin Laden fez o que pôde – e foi bastante</b>
O sábado, 2, poderia ter sido uma noite de justiça para MC Bin Laden, um dos artistas mais criativos dos últimos anos no Brasil. Não foi tudo o que ele merecia: o show aconteceu quase no mesmo horário dos The Killers no palco principal. Mas, enquanto estava no palco, Bin Laden fez o que pôde – e foi bastante, inclusive o perfeito remix Shake It Bololo, com a base de Shake It off, de Taylor Swift.
<b>Pet Shop Boys traduz atmosfera de balada</b>
É difícil traduzir para um festival a atmosfera de uma balada eletrônica. Mas os Pet Shop Boys conseguiram. A dupla britânica se dividiu bem. Tennant ditou o ritmo do show, indo de um lado ao outro do palco, interagindo com a plateia, e esbanjando carisma e teatralidade durante todo o show. Lowe não abriu sequer um sorriso, não falou nem se mexeu por trás do seu equipamento.
<b>Beck relembra marca da união de gêneros</b>
Beck fez um show que poderia ser descrito como "multifacetado" por alguma finada revista impressa de música ou como o de um "divo que faz tudo" por alguém no TikTok. É um artista que sacou lá no início dos anos 1990 o quanto divisões eram bobagens. Foi aclamado gênio por fazer um tipo de pop sem respeito por regras de gêneros musicais, o que hoje é normal entre os novinhos.
<b>Filipe Catto celebra carreira de Gal Costa</b>
Nem o sol foi capaz de segurar a empolgação ou diminuir a voz de Filipe Catto. Apresentando o show Belezas São Coisas Acesas por Dentro, acertado tributo a Gal Costa, destilou emoção e gritos potentes que vestiram de rock o repertório de Maria da Graça. Ora munida de um leque, ora de uma guitarra, Catto foi literalmente ao chão no fim de Nada Mais e recebeu de volta um coro de "Artista!" da plateia.
<b>The Hives conquista com rock atemporal</b>
De terno preto e gravata, aos 45 anos, o vocalista sueco Howlin Pelle Almqvist cantou rosado e suado, com a mesma disposição de quem o conheceu no auge de sua banda, na primeira década dos anos 2000. Recebeu de volta uma multidão pulando, pessoas velhas demais para fazer mosh fazendo mesmo assim, e um coro bonito do riff de Hate to Say I Told You So, que fez o vocalista sorrir.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>