Um ano que fez o Brasil e o mundo pararem seria mais para querermos esquecer que ele existiu. No entanto, os efeitos catastróficos do coronavírus obrigou profissionais das mais diversas áreas a repensar seu trabalho e modo de vida. Não foi diferente no setor cultural, que teve reflexos negativos, deixando muita gente fora do mercado. Mas foi também um período que forçou a criatividade e imaginação, surgindo assim alternativas viáveis e potentes.
Entre as mentes criativas, o ator e humorista Eduardo Sterblitch conquistou o público com seu programa <i>Sterblitch Não Tem um Talkshow – O Talkshow</i>. Suas duas temporadas estão disponíveis no Globoplay. Aliás, o último episódio chega nesta sexta-feira, 25, à plataforma.
Difícil quem não tenha se divertido com seus quadros no programa, no qual ele faz de tudo, interage virtualmente com o público, reproduz jogos de videogame e recebe convidados para entrevistas a distância. Tem ainda os comerciais – um dos quadros mais falados nos últimos tempos. Foi o que aconteceu com a invasão, nas redes sociais, da propaganda do Salão de Cabeleleilo da Cabeleleila Leila. Um verdadeiro trava-língua que se transformou em hit na internet, conquistando o público em geral, com muita gente reproduzindo o slogan.
Mas Sterblitch afirma que não costuma esperar que determinadas criações surtam tamanho efeito. "Eu vou trabalhando, e aí, às vezes, uma coisa acontece, outras não", diz. Para o humorista, algumas vezes o que desperta reação imediata do público nem sempre para ele foi o máximo. "Mas outras, que não acontecem, para mim foram maravilhosas." No entanto, esse caso em especial rendeu muito para ele, e ele expandiu o "negócio".
Criado por Eduardo Sterblitch e Clara Araújo, com direção de Rafael Queiroga e redação de André Gribel, Daniela Ocampo, Leonardo Lanna, Rodolpho Rodrigo e do próprio Sterblitch, <i>Sterblitch Não Tem um Talkshow – O Talkshow</i> teve uma primeira apresentação somente para os familiares do humorista e do amigo Gribel. Como nada foi divulgado nas redes sociais, o grupo que conferiu o número zero não passou de oito pessoas. "Foi de propósito. A gente não queria fazer uma coisa que fosse só para as redes sociais, como todo mundo estava fazendo, mas, sim, criar algo diferente, até brincar para entender o que seria possível fazer. Foi um teste e acabou dando certo", conta.
A intenção dos aventureiros era a de criar uma rede social para começar do zero mesmo. "Foi como se fosse um moleque de 12 anos querendo fazer a coisa pela primeira vez e querendo ajuda, aí deram oito pessoas. Foi muito legal porque a gente fez um teste pedindo audiência e acabou que valeu o teste, digamos assim."
O programa de Sterblitch foi baseado na peça que ele apresentou pelo Brasil, na qual interagia com a plateia e brincava com os inúmeros humoristas que comandam talk shows. No espetáculo, ele dizia que seu projeto de programa tinha sido recusado por todas as emissoras a quem ofereceu.
Ao transpor para a TV, a atração trouxe alguns elementos que compunham a peça. "A gente pensou em uma linguagem que tivesse a ver com o que a gente tinha feito com a peça, onde eu entrevistava o público", explica Sterblitch. A ideia foi também criar algo que pudesse ser feito nesse período de pandemia e, como na peça, que ele não precisasse de uma grande equipe. "Eu me adaptei."
<b>Trabalho e diversão</b>
E o que o público vê em cena, na telinha da TV, é um cara se divertindo com o que está fazendo. "Eu volto a ser criança a toda hora, eu não tenho esse lugar do adulto mais não. Eu sou adulto porque eu tenho que ser, mas a minha criança é muito presente", afirma o humorista. Para ele, a graça é tentar se divertir e, como ele não tem a mesma responsabilidade de um talk show convencional, dá para se divertir com mais facilidade.
"Eu me divertindo é a única maneira de a galera querer assistir, de ver que a gente está se divertindo, quando erra a gente assume o erro, é feito junto com o público", afirma. E, para que isso dê realmente certo, ele conta que tenta não ter pudores. "Humor com pudor fica ruim, eu tento despudorar mesmo o que estou fazendo."
Sua experiência com o fazer graça vem da época em que estava no Pânico na TV, que era exibido pela Band. Aliás, foi sua primeira aparição na telinha. E ganhou mais densidade ainda ao chegar ao programa <i>Amor & Sexo</i>, da Globo, onde pôde exercitar outras facetas. Ao <i>Pânico</i>, onde se eternizou como o Freddie Mercury Prateado, Sterblitch se refere como um programa absurdo porque sangrava a piada; daí o nome <i>Pânico</i>. "Hoje em dia fica mais difícil tocar o terror porque o governo já faz isso", diz o humorista, que revela ter sido aquele o programa responsável por ele ter perdido o pudor, junto com o palco do teatro.
"Com ele, eu aprendi que eu sou engraçado, que posso fazer qualquer coisa. Desde que eu leve a sério, que dê importância, vou fazer aquilo com a minha vida. Pode ser a pior coisa do mundo, mas eu vou lá e faço com a vida." Já sobre <i>Amor & Sexo</i>, no qual ele deixou a todos atônitos com sua nudez, Sterblitch diz ser um programa que entrou na sociedade para tentar reestruturar algumas coisas. "Talvez eu tenha me tornado um cidadão em <i>Amor & Sexo</i>, mas não consigo comparar uma coisa com a outra (o programa <i>Pânico</i>)."
Vez ou outra, Eduardo Sterblitch encara outros trabalhos desafiadores. Foi o que aconteceu ao integrar o elenco da novela de época <i>Éramos Seis</i>, no papel do farmacêutico caipira Zeca, que na versão de 1994 foi feito pelo ator Osmar Prado. E ele diz que gostou muito da experiência, apesar de ter ficado inseguro. "Será que vai dar certo, será que eu sou engraçado, será que eu sou bom, será que eu vou dar conta?", se questionava, na época. Mas acabou superando seus receios e brilhou – por vezes, até roubando a cena. "Eu tenho medo, eu não sou destemido. Sou corajoso, mas sempre vou com medo."
Pulando para um assunto mais complicado, Sterblitch não deixa de se posicionar quanto à questão de assédio, que nos últimos tempos tem sido muito debatida por conta das denúncias a Marcius Melhem, então diretor de humor da Globo, levantadas pela humorista Dani Calabresa. "Eu sou completamente do lado das vítimas, sempre, e torço para que a justiça, digamos assim, seja feita", afirma o ator, dizendo que conhece muitas das histórias em questão e as pessoas envolvidas. E reitera: "estou do lado das vítimas o tempo inteiro e, se precisar, saio até na porrada."
E, neste último programa do ano, que entra no Globoplay hoje, os convidados serão Angélica e Lucio Mauro Filho, com participação de Luciano Huck, que revela fazer as bainhas das calças da sua mulher.