O Ibovespa perdeu a linha de 130 mil pontos, encerrando o dia no menor nível desde 12 de dezembro passado – também o primeiro fechamento de 2024 abaixo daquele limiar -, hoje aos 129,2 mil. Nesta terça-feira, 16, o índice da B3 oscilou dos 129.146,61 aos 131.516,52 pontos, saindo de abertura aos 131.514,92 pontos – ou seja, praticamente operou apenas no negativo ao longo do dia. O giro desta terça-feira, pós-feriado nos Estados Unidos, subiu a R$ 23,5 bilhões. Nas duas primeiras sessões da semana, o Ibovespa recua 1,29%, com perda a 3,65% no mês.
O dia foi de correção bem distribuída pelas ações de maior peso no índice, como Vale (ON -1,30%), Petrobras (ON -1,10%, PN -1,24%) e as de grandes bancos (Bradesco ON -1,60%, Santander Unit -1,75%, Itaú PN -1,41%), além das siderúrgicas (CSN ON -3,64%, Gerdau PN -2,82%). Apenas uma (SLC Agrícola +1,97%) das 87 ações que integram a carteira teórica do Ibovespa conseguiu evitar perdas na sessão. Em porcentual, a queda de 1,69% no fechamento desta terça-feira, aos 129.294,04 pontos, foi a maior para o Ibovespa desde 21 de setembro (-2,15%).
Na ponta perdedora na sessão, destaque para Soma (-6,18%), Cosan (-6,14%), Azul (-5,28%), Raízen (-5,25%) e Pão de Açúcar (-4,80%). A aversão a risco desde o exterior resultou em pressão sobre o câmbio nesta terça-feira – elevando o dólar a R$ 4,93 na máxima do dia – e também na curva de juros doméstica, que respondeu ao ajuste nos rendimentos dos Treasuries: combinação que levou o Ibovespa a renovar mínimas da sessão ao longo da tarde, chegando a cair 1,81% no pior momento.
Em Nova York, os três principais índices de ações fecharam em baixa, com Dow Jones à frente (-0,62%) nas perdas. O dia foi marcado pelo prosseguimento da reprecificação de expectativas quanto aos juros do Federal Reserve, com efeito direto para a curva futura nos Estados Unidos e resquícios para a dos DIs, no Brasil. Os rendimentos dos Treasuries voltaram a operar acima do limiar de 4% nesta terça-feira, desde vencimentos curtos, como o de 2 anos, a 4,26% na máxima da sessão, como também nos mais longos, de 10 anos (4,07%) e 30 anos (4,32%).
"Dia negativo para os ativos de risco lá fora, com os juros abrindo e, também, apreciação global para o dólar. Nesta semana, a política monetária permanece no foco das atenções, com falas de autoridades de BCs, como o da zona do euro (BCE), expressando cautela quanto aos juros, sobre quando poderão começar a cair. E hoje, nos Estados Unidos, Christopher Waller diretor do Fed ainda mostrou cautela com relação aos juros americanos", diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas. Ele acrescenta que o noticiário doméstico, sem muitas definições e em marcha lenta, reforça a reação dos ativos do Brasil a desdobramentos externos.
Nos Estados Unidos, Waller observou que a inflação parece estar retornando à meta de 2%, com reequilíbrio no mercado de trabalho, e dados recentes positivos, o que deve permitir ao Federal Reserve cortar os juros de referência em 75 pontos-base em 2024 – o correspondente a três reduções de 25 pontos-base, até dezembro.
Após a fala de Waller, no começo da tarde, a curva de juros americana mostrou redução significativa das apostas em relaxamento monetário agressivo nos EUA este ano. Antes das declarações, o mercado trabalhava com cenário mais provável de 175 pontos-base em redução da taxa básica do Fed até dezembro – ou seja, sete cortes se for considerado o ritmo de baixa em 25 pontos-base por reunião. Com o ajuste na curva visto nesta terça-feira, a hipótese mais forte passou a ser de alívio um pouco mais suave, de 150 pontos-base (seis baixas de 25 pb), opção que cresceu de 29%, ontem, para 39,4% nesta tarde.
Em Nova York, contribuindo para enfraquecer o apetite dos investidores por risco, a atual temporada de resultados trimestrais dos grandes bancos americanos tem se mostrado "mista", observa Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, destacando, nesta terça-feira, os números apresentados pelo Morgan Stanley, com queda de lucro, o que resultou em perda de quase 5% para a ação do banco durante o dia. "Os resultados dos bancos têm mostrado a sensibilidade do setor ao nível de juros por lá, que permanece o maior em 15 anos", acrescenta.