Os juros futuros terminaram a quinta-feira em alta, influenciados pelo movimento dos Treasuries, pelo IPCA de janeiro e a piora na percepção do risco político. No Brasil, a inflação acima da mediana das estimativas e com leitura negativa dos preços de abertura pressionou especialmente a ponta curta, mas teve também influência sobre as taxas longas, penalizadas ainda pelo ambiente externo e pela cautela com a pauta econômica, após a operação da Polícia Federal que envolveu a prisão do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) janeiro de 2025 voltou aos dois dígitos e fechou na máxima, a 10,015%, de 9,952% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 9,67% para 9,79%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 9,94% (de 9,83% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2029 avançou a 10,37%, de 10,27%.
Entre todos os fatores negativos do dia, o IPCA teve o maior peso sobre a curva. A alta de 0,42% em janeiro veio acima da mediana das estimativas (0,35%). Em 12 meses, a taxa acumulada desacelerou entre dezembro (4,62%) e janeiro (4,51%), mas ainda está tecnicamente acima do teto da meta (4,50%). Mais do que o índice cheio, a surpresa do mercado veio dos serviços subjacentes, que têm monitoramento especial do Banco Central para as decisões de política monetária. No mês, subiram 0,76% ante mediana de 0,60%. Em 12 meses, voltaram a superar 5%.
A leitura da inflação no mês passado torna ainda mais improvável a aceleração no ritmo de queda da Selic e não se descarta que o Copom possa parar com os cortes antes do previsto e até com a taxa ainda em dois dígitos. Por ora, no entanto, a percepção é de que a sinalização emitida pelo Banco Central está de pé. "Resta saber se o resultado foi ruim o suficiente para gerar maiores receios à continuidade do ritmo de -50 pontos-base para a condução da Selic. Avaliamos que apesar de ruim, não se trata de um dado que irá alterar o plano de voo do Copom", afirma o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, o IPCA de janeiro não compromete seu cenário de Selic terminal de 8,5%, mas é "o prego no caixão" da possibilidade de o Copom acelerar a redução para 0,75 ponto porcentual. "Até porque teríamos de ter um cenário internacional que endosse essa hipótese, o que não está ocorrendo", afirmou. Com isso, a taxa terminal deve ser alcançada mesmo em doses de 0,50 ponto.
Lá fora, as taxas americanas avançaram com o número de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos na última semana abaixo do previsto, o que endossa o discurso do Federal Reserve de que é necessário ter mais paciência para começar a cortar os juros. À tarde, um leilão de T-Bond de 30 anos com demanda acima da média chegou a arrefecer momentaneamente a pressão de alta, mas no fim do dia o yield da T-Note de dez anos já voltava a bater máximas, no patamar de 4,16%.
Para Argenta, da CM, a pressão da ponta longa veio de Brasília, com a prisão do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, no âmbito da Operação Tempus Veritatis. Como o PL tem a maior bancada na Câmara, onde a relação com o Executivo já está desgastada, há receio sobre o futuro da agenda que a Fazenda precisa aprovar para sustentar a meta de primário zero em 2024. "O ambiente para as reformas fica prejudicado", disse.
A ponta longa também teria sofrido com o IPCA, dado o aumento na probabilidade de uma Selic maior do que o precificado. A curva projetava Selic terminal de 9,50% no fim da tarde.