Os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estão usando as declarações do atual mandatário, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza com o Holocausto, para tentar inflar e justificar o ato marcado para o próximo dia 25 na Avenida Paulista, em São Paulo.
O advogado Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Bolsonaro, escreveu no X que ia sugerir ao ex-presidente e ao pastor Silas Malafaia, um dos organizadores da manifestação, a participação do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine. Segundo Wajngarten, ele seria "muito bem recebido e acolhido".
A expectativa entre bolsonaristas é a de que o episódio ajude a ampliar o público presente na capital paulista. A declaração de Lula, no domingo, 18, provocou forte reação de líderes evangélicos, segmento muito identificado com o ex-presidente. A fala do petista resultou em notas de repúdio da comunidade judaica brasileira e de entidades especializadas que trabalham com a memória do Holocausto. Lula também gerou uma crise diplomática com Israel, que declarou que ele é persona non grata no país até se desculpar.
<b>Custos</b>
Malafaia também criticou as declarações do presidente em postagem feita nas redes sociais. Depois de anunciar que a Associação Vitória em Cristo financiaria a manifestação convocada pelo ex-presidente, o pastor evangélico mudou o discurso, afirmando que o ato será pago com recursos próprios.
A decisão do líder religioso de custear o evento com seu próprio dinheiro ocorre após críticas nas redes sociais sobre suposto uso de dízimo de fiéis para o ato bolsonarista. Ontem, Malafaia afirmou que Lula "envergonha o povo brasileiro diante do mundo". "Não representa a nossa opinião e repudiamos essa fala idiota."
Os filhos do ex-presidente também criticaram a declaração de Lula. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) fez uma série de publicações sobre o tema. "Lula não apenas demonstrou desconhecimento da história, mas principalmente expôs para todo o mundo o ódio em seu coração contra o Estado de Israel. Neste momento seus marqueteiros devem estar o aconselhando loucamente para tentar reduzir os danos", escreveu o parlamentar.
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que a declaração de Lula é "uma fala cretina de quem desconhece a história". "Com Lula, o Brasil é uma pária mundial, um anão diplomático", disse. "A fala de Lula ainda é mais repugnante após o grupo terrorista Hamas, que assassinou milhares de mulheres, crianças e bebês recentemente, agradecê-lo pela comparação. A esquerda é diabólica!", declarou.
Em texto publicado no blog <i>De Dados em Dados</i>, no <b>Estadão</b>, Bruno Soller afirmou que, com sua declaração durante encontro da cúpula da União Africana, na Etiópia, Lula "não só convidou para o ringue a pequena, porém influente, comunidade judaica brasileira, mas também uma grande parcela de um público do qual o governo buscava se aproximar e que é repelido pela desastrosa declaração: o evangélico".
Segundo Soller, "qualquer pessoa que fizer uma breve incursão em uma comunidade brasileira e olhar com atenção para os altares das mais diversas igrejas evangélicas com absoluta certeza enxergará em boa parte delas uma bandeira de Israel".
<b>Jorginho Mello</b>
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), antecipou o retorno ao Brasil para participar do ato convocado por Bolsonaro no próximo domingo. Em viagem a Dubai, nos Emirados Árabes, o chefe do Executivo catarinense havia afirmado, na semana passada, que não compareceria à manifestação.
A previsão inicial era de que o governador retornasse para o Brasil apenas no fim da tarde do domingo, o que impossibilitaria a presença dele no evento, que tem início marcado para as 15 horas. Jorginho, que embarcou para os Emirados Árabes no dia 17, mudou a agenda e voltará ao País no sábado, chegando a São Paulo na manhã do dia seguinte.
Além dele, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), também já confirmaram presença na manifestação convocada para a Avenida Paulista.
Na semana passada, os governadores do Acre, Gladson Cameli (PP), e de Roraima, Antonio Denarium (PP) – outros dois chefes de Executivo estaduais alinhados a Bolsonaro -, disseram que não irão comparecer ao ato. Cameli afirmou que também tem compromissos no Oriente Médio, enquanto Denarium disse que vai participar da entrega de obras no interior do seu Estado.
<b>Supremo</b>
Malafaia declarou no sábado, 17, que o ato bolsonarista não terá ataques dirigidos ao Supremo Tribunal Federal (STF), como já ocorreu em manifestações passadas. O líder religioso disse que pretende fazer apenas uma menção ao ministro do STF Alexandre de Moraes durante o evento, porém sem atacá-lo.
"Não vamos atacar o Supremo Tribunal Federal ou atacar o Alexandre de Moraes", afirmou o pastor ao <b>Estadão</b>. "Vou fazer apenas uma menção sobre o Alexandre de Moraes. Mas não será igual às menções que faço nas minhas redes sociais, o chamando de ditador da toga , pedindo o impeachment dele. Nas redes sociais, boto pra arrebentar. Mas não haverá nada desse nível. Vou apenas confirmar uma declaração que ele mesmo deu para toda a imprensa", completou Malafaia.
No vídeo de convocação para o ato na Avenida Paulista, divulgado dias depois da operação da Polícia Federal que o atingiu, Bolsonaro pediu a seus apoiadores que não levem à manifestação faixas e cartazes "contra quem quer que seja".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>