O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 20, em queda de 0,61%, cotado a R$ 4,9316, no menor valor em 20 dias. O mercado de câmbio local trabalhou alinhado ao sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. Segundo analistas, a surpresa com a magnitude do corte de juros na China e a queda das taxas dos Treasuries deram fôlego ao real, que teria sido beneficiado também por entrada de fluxo comercial. As negociações entre Congresso e lideranças partidárias em torno da agenda econômica foram apenas monitoradas.
Foi o quarto pregão seguido de queda do dólar, que passou a acumular leve desvalorização em fevereiro (-0,12%). Diferentemente das sessões anteriores, marcadas por oscilações muito modestas e liquidez contida, hoje as variações foram um pouco maiores – de quase quatro centavos entre mínima (R$ 4,9254) e máxima (R$ 4,9645) – e houve bom volume negociado. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para março movimentou mais de US$ 13 bilhões.
"O movimento global foi favorável ao Brasil, com o reflexo do corte de juros na China. Vimos entrada de recursos pelo lado comercial", afirma o gerente de Tesouraria do Banco BS2, Felipe Ueda, que ainda vê perspectiva de apreciação do real, sobretudo se a agenda econômica caminhar no Congresso, com aprovação do projeto do governo de reoneração da folha de pagamentos.
À tarde, o ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que o presidente Lula vai ser reunir com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e líderes partidários na quinta-feira, 22, para tratar da pauta econômica. Ele disse que o governo continua aberto a negociações em torno da questão da desoneração da folha de pagamentos.
Sem indicadores relevantes aqui e lá fora, investidores digeriram hoje a decisão do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) ontem à noite. O corte da taxa de juros de referência para empréstimos de cinco anos já era esperado, mas o mercado se surpreendeu com o tamanho da redução, de 4,2% para 3,95%.
Amanhã, o Federal Reserve divulga a ata do encontro de seu comitê de política monetária no fim de janeiro, quando a taxa básica do país foi mantida no intervalo entre 5,25 e 5,50%. Não se espera que o documento traga novidades em relação ao tom mais conservador adotado nas últimas semanas por dirigentes do BC americano.
Depois de iniciar o ano com apostas majoritárias em começo de flexibilização monetária em março e corte total em 2024 de cerca de 150 pontos-base, investidores recalibraram suas posições nas últimas semanas com base tanto nos indicadores americanos, com leitura mais forte da inflação ao consumidor em janeiro, como nos sinais emitidos pelo Fed.
"Duvido que venha alguma surpresa na ata. O mercado já pôs no preço que o começo dos cortes vai ser em junho e que a taxa vai cair 75 pontos-base neste ano", afirma Ueda, do Banco BS2, para quem o foco dos investidores nesta semana devem ser os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) preliminares de fevereiro na quinta-feira, 22, que devem trazer sinais sobre o ritmo da economia americana.