Estadão

Europa critica Israel por mortes em Gaza; EUA lançarão ajuda de aviões

No dia seguinte à morte de mais de 100 palestinos que buscavam desesperadamente comida em Gaza, a pressão internacional por um cessar-fogo aumentou. Alemanha, França e Reino Unido exigiram nesta sexta, 1º, investigações independentes sobre o episódio. Os EUA, embora mais cautelosos, anunciaram que lançarão ajuda humanitária de aviões.

Ontem, o presidente americano, Joe Biden, disse que os lançamentos aéreos ocorrerão nos próximos dias, mas não deu detalhes. "Pessoas inocentes foram apanhadas em uma guerra terrível, incapazes de alimentar suas famílias, e vocês viram a resposta quando eles tentaram obter ajuda", disse Biden. "Precisamos fazer mais. Os EUA farão mais."

Jordânia e França já realizam lançamentos aéreos de ajuda em Gaza, onde pelo menos meio milhão de pessoas estão em situação de "fome iminente", segundo a ONU, após quase cinco meses de uma guerra que começou com um ataque do Hamas que matou 1,2 mil em Israel, em outubro.

Na madrugada de quinta-feira, 29, caminhões com ajuda humanitária cruzavam Gaza quando uma multidão se aproximou em desespero. Ainda não se sabe o que aconteceu, mas o saldo foi de 112 mortos e 760 feridos. Os palestinos dizem que soldados de Israel atiraram na multidão. O Exército israelense afirma que os tiros foram de advertência, mas admitiu ter matado cerca de 10 pessoas. A maioria, segundo os militares, morreu pisoteada na confusão ou atropelada pelos caminhões.

<b>Críticas</b>

Médicos em Gaza, porém, afirmam ter atendido dezenas de feridos com marcas de tiros. Muitos mortos também apresentavam buracos de bala. Cerca de 150 feridos e 12 cadáveres chegaram ao Hospital Kamal Adwan. Segundo Eid Sabbah, chefe de enfermagem, 95% deles com ferimentos de bala no peito e no abdômen. De acordo com ele, muitos precisaram de cirurgias de urgência. No entanto, como o hospital sofre com a falta de luz, combustível, equipamentos e remédios, os médicos só conseguiram realizar 20 operações – todas à base de analgésicos, sem anestesia, que está em falta.

A diplomata americana Samantha Power, diretora da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), disse que, independentemente do que aconteceu, pessoas foram mortas quando tentavam obter comida. "Isso não pode acontecer", afirmou. "Civis desesperados tentando alimentar suas famílias famintas não deveriam ser atingidos."

O chanceler da França, Stéphane Séjourné, pediu uma investigação independente e disse que o caos foi o resultado de uma catástrofe humanitária. "É indefensável", declarou. "Israel precisa ouvir e isso tem de parar."

O presidente francês, Emmanuel Macron, exigiu ontem "verdade e justiça" sobre o papel dos soldados israelenses no ataque. "Profunda indignação com as imagens vindas de Gaza, onde civis foram alvo de soldados israelenses", afirmou Mácron.

O Reino Unido também pediu uma investigação e a responsabilização dos culpados. "As mortes de pessoas que aguardavam um comboio de ajuda foram horríveis. Isso não pode acontecer novamente. Israel deve permitir a entrada de mais ajuda em Gaza", afirmou o chanceler britânico, David Cameron.

O incômodo veio até de quem raramente critica Israel, como a Alemanha. Annalena Baerbock, ministra alemã das Relações Exteriores, exigiu dos militares israelenses que "expliquem" os assassinatos de quinta-feira e pediu um cessar-fogo. "As pessoas em Gaza estão mais próximas da morte do que da vida", afirmou Annalena.

<b>Dinheiro</b>

Ontem, a União Europeia anunciou o desbloqueio de € 50 milhões (R$ 268 milhões) em fundos para a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês). O dinheiro havia sido congelado após denúncias de que funcionários da agência participaram dos ataques do Hamas.

Os recursos já serão liberados na semana que vem, segundo a Comissão Europeia, que anunciou um aporte adicional de € 68 milhões para a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho nos territórios palestinos ocupados por Israel. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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