Estadão

Membros do alto escalão da UE planejam reforçar defesa ante ameaça da Rússia

Funcionários do alto escalão da União Europeia delinearam, nesta terça-feira, 5, planos ambiciosos para impulsionar a indústria de defesa em um ritmo sem precedentes, enquanto o bloco procura responder à ameaça representada pela guerra da Rússia à Ucrânia e a um parceiro transatlântico que pode estar hesitando em seu compromisso com a Europa.

Durante décadas, os países da UE contaram com a cobertura nuclear protetora dos Estados Unidos através da aliança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), enquanto os seus gastos com defesa e preparação para crises diminuíam.

Um primeiro aviso, sob a presidência de Donald Trump, evidenciou a falta de coordenação e as falhas no fornecimento que seria necessário se as nações europeias alguma vez tivessem de se defender sem a ajuda de Washington.

Agora, com Moscou cada vez mais assertivo, a necessidade de reforçar a defesa torna-se cada vez mais clara.

"Depois de décadas de subutilização, temos de investir mais na defesa, mas precisamos fazer melhor e em conjunto", afirmou o chefe de Relações Externas da UE, Josep Borrell. "Uma indústria de defesa europeia forte, resiliente e competitiva é um imperativo estratégico."

A invasão da Ucrânia pela Rússia expôs fraquezas flagrantes nas capacidades de produção de armas da Europa, que foram negligenciadas na sequência da queda do Muro de Berlim em 1989 e da promessa de paz na Europa.

Assim, quando Kiev necessitou, com urgência, de munições mais elementares para afastar as forças russas, as nações europeias foram pegas em apuros, incapazes de cumprir o que foi pedido e até mesmo prometido.

A constatação de que o ex-presidente Trump poderá regressar à Casa Branca e minar o apoio à Ucrânia também concentra as mentes na Europa. Pesos pesados da UE, a França e Alemanha alertaram que o bloco deve fazer mais para se proteger.

E depois de anos de estratégias de defesa isoladas que deixaram a Europa dividida apesar dos gastos elevados, o plano procura impor um propósito comum.

"As nossas despesas com a defesa destinam-se a muitos sistemas de armas diferentes, principalmente comprados fora da UE", afirmou a vice-presidente da Comissão Europeia, Margrethe Vestager. Com o aumento dos orçamentos de defesa dos integrantes da UE, "devemos investir melhor, o que significa, em grande parte, investir em conjunto, e investir (em produtos) europeus".

De acordo com as propostas, os 27 Estados-membros da UE serão convidados a comprar em conjunto pelo menos 40% do equipamento de defesa e a garantir que 35% do valor da defesa fique com o comércio interno até 2030.

Os planos vão agora para os Estados-membros da UE, onde serão, posteriormente, negociados.

A guerra na Ucrânia levou as nações europeias a aumentarem os gastos com defesa, e muito dinheiro é destinado à indústria de defesa dos EUA. A Alemanha, por exemplo, anunciou uma modernização de 100 bilhões de euros (US$ 108 bilhões) das suas forças armadas, com uma grande fatia dos fundos dedicados aos caças F-35 e helicópteros de transporte dos EUA.

Embora a produção tenha melhorado, a UE só está produzindo cerca de metade da proposta inicial de fabricação de 1 milhão de munições de artilharia anualmente. As autoridades dizem agora que a produção poderá atingir 1,4 milhão de munições por ano até o final de dezembro.

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