Impulsionada pela força da economia chinesa na crise de 2009, a maioria dos países emergentes não vai conseguir escapar da recessão desta vez. Enquanto, na crise financeira, 38% dessas economias viram seu Produto Interno Bruto (PIB) recuar, em 2020, deverão ser 75%, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Há 11 anos, com a propulsão da China, os emergentes, juntos, conseguiram inclusive ter uma alta de 2,8% no PIB. Para este ano, no entanto, a projeção é de retração de 1,1%. "Quem puxou essas economias em 2008 e 2009 foi a China, que agora está no centro da crise. Ainda que ela cresça 1% ou 2% (a estimativa do FMI é de 1,2%), é um baque muito grande", diz o economista Marcel Balassiano, responsável pelo levantamento. Em 2009, o país avançou 9,4%, criando demanda por commodities e beneficiando economias como a brasileira.
Mesmo que seu PIB aumente neste ano, a China não tem mais o mesmo potencial para impulsionar tantos países, dado que seu modelo econômico também vem mudando em direção ao consumo doméstico, e não mais em investimentos em infraestrutura. "O consumo interno ganhou peso nos últimos anos e os chineses também devem estar inseguros agora para sair de casa, o que vai causar impactos", diz o economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências.
Outra diferença que prejudica os emergentes desta vez é que esses países já não vêm crescendo de forma acelerada como nos anos 2000. Àquela época, com o ciclo de alta das commodities, os emergentes estavam mais bem posicionados para enfrentar a crise, com espaço para políticas fiscais mais agressivas.
O Brasil é justamente um dos que vai encarar mais de perto essa mudança de cenário. "O País está em uma situação pior quando se compara com a última crise global porque vem de uma recuperação fraca após uma recessão", acrescenta Balassiano.
Em 2009, o PIB brasileiro retrocedeu 0,1%, o mesmo número da economia global. Para este ano, no entanto, o FMI projeta uma queda de 5,3% para o País, o que significará um recuo mais acentuado do que o da média global.
<b>Situação mundial</b>
A natureza desta crise, decorrente de uma questão de saúde, a tornará muito mais global e profunda, de acordo com o estudo do Ibre/FGV. Em todo o mundo, 80% dos países deverão sofrer uma queda no PIB neste ano — China e Índia estarão entre os poucos que terão números positivos, ainda que modestos. Em 2009, foram 47% os que registraram recuo.
"A crise atual será pior que a anterior. Se olharmos o PIB global, a queda passará de 0,1% em 2009 para 3% neste ano", diz Marcel Balassiano.
Entre os países avançados, o alcance da crise também será maior, mostra o levantamento de Balassiano. Em 2009, 85% deles registraram retração no PIB. Neste ano, deverão ser 100%. Apesar de mais atingidas, algumas dessas economias poderão ter uma retomada mais rápida, diz o economista Álvaro Frasson, do BTG Pactual Digital. "É difícil saber como será a recuperação, mas, dado que a política monetária tem feito pouco efeito, é de se esperar que os Estados Unidos, por exemplo, se recuperem mais rápido, pois têm mais espaço para fazer política fiscal."
Campos Neto lembra que emergentes como Brasil, México e Rússia deverão sofrer ainda com a queda do preço do petróleo. Para Fabio Silveira, economista da Macrosector, em uma hipótese otimista, sem uma segunda onda da pandemia, a recuperação global pode vir a partir do fim deste ano. "Por enquanto, o que podemos dizer com segurança é que a crise será muito mais profunda do que a de 2009."
Silveira lembra que, enquanto em 2008 e 2009, a crise era sobretudo financeira, mas com potencial de se expandir para a economia real, hoje a situação é a inversa. "Agora, há uma paralisação na economia real que pode contaminar o lado financeiro, reeditando, na sequência, a crise de 2009." As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>