Estadão

Chefe da polícia Civil na época do crime é preso; investigação vê obstrução

A investigação da Polícia Federal sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) aponta evidências de obstrução da apuração na própria Delegacia de Homicídios do Rio. De acordo com o inquérito, a sabotagem ocorreu "mediante ajuste prévio dos autores intelectuais com o então responsável pela apuração de todos os homicídios ocorridos no Rio", o delegado e ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. O advogado Alexandre Dumans, que representa Rivaldo Barbosa, negou a participação dele no crime.

Segundo a PF, policiais foram negligentes em quatro situações: na hora de recolher as imagens das câmeras de segurança do local do crime; no desaparecimento do celular apreendido do suposto responsável por clonar o veículo usado nas execuções; na ausência de informações substanciais sobre busca e apreensão em uma empresa de um sócio dos Brazão; e na Operação Nevoeiro, que teria sido obstruída para "proteger contraventores".

Conforme a PF, Rivaldo Barbosa é suspeito de receber dinheiro para deixar de apurar homicídios cometidos pelo crime organizado no Estado. "Existia um sistema de pagamento mensal realizado pelas milícias para as delegacias. A DH (Delegacia de Homicídios), por exemplo, recebia mensalmente em torno de R$ 60 mil/R$ 80 mil", disse a PF.

<b> Carta-branca </b>

O delegado foi citado na delação de Ronnie Lessa. Segundo ele, Rivaldo Barbosa fez uma exigência: a de não matar a vereadora nas proximidades da Câmara Municipal. O objetivo seria afastar a hipótese de crime político. Lessa relatou ainda que Domingos Brazão "deixou claro que ele (Rivaldo Barbosa) é a carta-branca para o crime".

Depois do crime, Rivaldo Barbosa se solidarizou com as famílias e amigos das vítimas. "Ele falou que era questão de honra elucidar esse caso", disse a mãe de Marielle, Marinete da Silva, em entrevista à GloboNews, ontem. "A maior surpresa foi o nome do Rivaldo. Minha filha confiava nele."

Rivaldo Barbosa assumiu a chefia da Polícia Civil do Rio em 13 de março de 2018, véspera do crime. Ele foi nomeado pelo então interventor na segurança pública do Estado, general Braga Netto. O militar – que foi ministro da Casa Civil e Defesa de Bolsonaro e vice na chapa que disputou a reeleição em 2022 – foi escolhido pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). O decreto da intervenção federal foi baixado "diante do quadro de insegurança do Rio" e vigorou entre 16 de fevereiro e 31 de dezembro de 2018.

<b>Livro</b>

O delegado Giniton Lages, primeiro a ser designado para investigar o caso, foi alvo de buscas neste domingo, 24. A nomeação de Lages como titular da Delegacia de Homicídios na manhã após o crime, feita por Rivaldo Barbosa, é outra "coincidência" apontada no inquérito. "Os trabalhos de sabotagem se iniciaram no momento mais sensível da apuração, as horas de ouro, o que ensejou a perda de elementos de convicção importantes para a sua resolução, como a captação das imagens dos circuitos internos de televisão dos imóveis adjacentes ao local do crime", diz a investigação. Em 2022, Lages lançou o livro Quem Matou Marielle?, no qual diz que "se apaixonou" pela atuação da vereadora.

O comissário de polícia Marco Antônio de Barros Pinto também foi afastado. "(Lages e Barros Pinto) Foram fundamentais para a empreitada que garantiu a impunidade do crime até os dias atuais", disse a Procuradoria-Geral da República.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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