A 17 dias da eleição, o número de novos casos de covid-19 nos EUA voltou a ultrapassar ontem a marca de 60 mil pelo segundo dia seguido, levando muitos especialistas a definir o aumento como "uma terceira onda" de infecções no país. Nas duas primeiras, em abril e julho, um crescimento de mortes foi registrado nas semanas seguintes. Se isso voltar a ocorrer, haveria uma elevação dos óbitos a poucos dias da votação.
Dessa vez, o vírus vem se espalhando por comunidades rurais dos EUA, em Estados governados por republicanos, principalmente em Montana, Idaho, Dakota do Norte e Dakota do Sul – onde a capacidade hospitalar é limitada e a população é mais velha e vulnerável. A aproximação do inverno, segundo epidemiologistas, pode piorar a situação – o clima é mais seco e o frio faz com que as pessoas convivam em ambientes fechados.
Além disso, as comunidades rurais republicanas estão menos inclinadas a seguir as orientações de saúde, incluindo o uso de máscaras e distanciamento social. A mistura de pandemia e eleição cria um efeito em cascata que mina a resposta à crise, segundo o epidemiologista William Hanage, da Universidade Harvard. "As ações para suprimir a transmissão foram mais fortes em Estados democratas e o vírus seguiu seu curso natural", disse.
A marca de 60 mil novos casos por dia é a mais alta desde agosto. No momento, 44 dos 50 Estados e a capital Washington registram crescimento de infecções. Mais de 36 mil pessoas estão hospitalizadas com covid em todo o país. Alguns hospitais do Meio-Oeste e de Estados do norte dos EUA estão ficando sem leitos.
A primeira onda do vírus devastou o Nordeste americano, principalmente os Estados de Nova York e New Jersey. Foi quando os Estados Unidos registraram mais mortes. A segunda onda afetou o Cinturão do Sol: Texas, Flórida e Arizona. Apesar de registrar duas vezes mais casos por dia, em média, o segundo pico teve metade das mortes diárias.
Segundo especialistas, isso reflete a melhoria do atendimento, do tratamento e o fato de que mais pessoas estão sendo testadas, principalmente jovens e assintomáticos.
"Inevitavelmente, estamos entrando em uma fase em que haverá necessidade de novas restrições", disse David Rubin, diretor do PolicyLab do Hospital Infantil da Filadélfia. Seja como for, a mensagem dos especialistas é enfática: o vírus não está desaparecendo magicamente, como defende o presidente Donald Trump.
Robert Redfield, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), disse que o feriado de Ação de Graças pode aumentar as taxas de transmissão viral, de acordo com gravação obtida pela CNN. "O que estamos vendo como uma ameaça crescente agora é a contaminação por meio de pequenas reuniões familiares."
Entre os que adotam cautela está Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas. Em entrevista à CBS News, ele pediu para que as pessoas evitem reuniões no feriado. "É lamentável, porque é uma tradição americana", disse. "Mas devemos abrir mão da reunião social neste ano." (Com agências internacionais)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>