Nesta quarta-feira, o técnico Guto Ferreira pode conquistar seu segundo título no comando do Ceará. Atual campeão da Copa do Nordeste, o treinador encara o Fortaleza, de Rogério Ceni, na decisão do Campeonato Cearense, adiada em decorrência da pandemia da covid-19. O jogo no estádio Castelão começa às 21h30.
Em julho, Guto levou a melhor diante do Fortaleza na semifinal da Copa do Nordeste. Dessa vez, o cenário é outro. O Fortaleza vive melhor fase e tem a vantagem de ter vencido o primeiro jogo por 2 a 1. No Campeonato Brasileiro, o Ceará faz campanha regular. É o 13º colocado, com 19 pontos.
<b>Existe algo específico a que você possa creditar seu bom desempenho no Ceará? Elenco? Torcida? Ambiente de trabalho?</b>
Temos grandes lideranças dentro do elenco e, desde o início do nosso trabalho, estabelecemos metas e os jogadores se cobram muito. Tanto no dia a dia, quanto nos jogos. Acho que isso tem feito as coisas acontecerem dentro do clube.
<b>Neste ano, você venceu a Copa do Nordeste. Em 2017, você já tinha conquistado o título com o Bahia. Quais são as semelhanças e diferenças entre as duas conquistas?</b>
O estágio de trabalho com a equipe da Bahia era outro. Tínhamos conquistado o acesso na Série B e feito contratações pontuais para qualificar o plantel. A fase de preparação nos Estados Unidos contribuiu muito para que a equipe não abandonasse totalmente os trabalhos físicos durante as férias. Isso fez com que todo mundo chegasse com uma preparação muito boa no torneio. As peças que chegaram cresceram dentro da qualidade do trabalho. A situação do Ceará, por outro lado, é diferente. Viemos de uma pandemia e tivemos o trabalho de recuperação de um grande tempo parado, sendo que a equipe não estava completamente encaixada. No Bahia, jogamos um futebol extremamente agressivo, de marcação alta. Já no Ceará até conseguimos realizar algo parecido, mas, em decorrência do contexto, muitas vezes tivemos mais de buscar anular o adversário do que propor o jogo. Isso por causa do tempo de trabalho. Sem dúvidas foram dois grandes títulos que influenciaram muito minha carreira, mas a recordação com o Ceará fica na frente porque vencemos de forma invicta.
<b>A boa fase em campo tem se refletido com a torcida do Ceará. Criaram até uma miniatura sua, o "Gutinho". Como essa confiança da torcida no seu trabalho se reflete no vestiário com os jogadores?</b>
O Gutinho é uma valorização grande na minha carreira. Fico feliz com isso. Pelo respaldo que o torcedor tem me dado. Creio que a principal confiança no grupo seja em decorrência do que nós fazemos no dia a dia, não simplesmente porque o clube está valorizando a marca do treinador. O fator principal é o que você consegue agregar dentro do grupo.
<b>Os torcedores te chamam de "Gordiola" por causa do seu peso e, claro, em decorrência da boa fase. Você se incomoda com esse apelido ou leva na brincadeira?</b>
Sempre encarei com carinho a questão do Gordiola. Enquanto seguir dessa maneira, não tem problema nenhum. Creio que até tenha ajudado bastante a quebrar o gelo e algum tipo de discriminação que pudesse vir em relação ao gordo. Além disso, é uma comparação com um grande treinador, embora eu acredite que meu trabalho não tenha muita coisa a ver com o dele (Pep Guardiola). Ainda tenho que trabalhar muito para chegar próximo do que ele é dentro do mercado. Mas essa situação do apelido, embora tenha sido o Flávio Prado, na Ponte Preta, quem me deu, pegou mesmo no Nordeste. Acredito que o nordestino tem, por cultura, empregar apelidos de uma forma carinhosa, como este, e valorizar o profissional. Tenho meu respeito pelo Gordiola e pela manifestação do torcedor.
<b>Nessas últimas rodadas, percebemos que o Campeonato Brasileiro está bastante disputado, principalmente no meio da tabela, onde o Ceará se encontra. Nas próximas semanas o clube inicia a disputa da Copa do Brasil. Como será feita a conciliação das duas competições? Você é favorável ao rodízio de atletas?</b>
A competição está muito disputada, de fato, e o Campeonato Brasileiro está se projetando em dois blocos. O primeiro envolve três ou quatro equipes na parte de cima, já o segundo um blocão de 12 a 16 equipes. Todos com uma diferença muito pequena de pontos. Ficamos jogando três meses sem parar, fazendo um jogo a cada três dias e esse tipo de situação desgasta demais o atleta. Não é nem questão de gostar ou não gostar, ser a favor ou não do rodízio, ele é necessário agora. É preciso ter plantel e muita habilidade. Quando você não tem elenco, é preciso abrir mão de jogar para vencer. Você prioriza os jogos que acredita que vai ganhar. Quem tem plantel vai mexer e brigar para vencer em todos os jogos. Quem não tem vai ter de arrumar algum tipo de solução, senão fatalmente vai ficar desgastado e estará sujeito a uma sequência de derrotas. Por isso, o rodízio de jogadores é muito importante. É preciso trabalhar muito mais do que com 11 atletas. É preciso fazer todo o grupo se sentir importante e ter habilidade na estruturação do modelo de jogo para que o conjunto não seja tão afetado.
<b>Conquistar o título do Campeonato Cearense de certa forma coroa sua boa fase?</b>
Com certeza. Todo título chancela um grande trabalho. O título de campeão cearense, nesse momento, apesar das dificuldades de ter perdido o primeiro jogo, mostra a força do grupo, o bom momento e nossos limites, apesar das dificuldades.
<b>O Internacional foi o único clube dentre os chamados "12 grandes" que você comandou. Por que você acha que não teve chance de comandar outro time dentro desse grupo?</b>
Sinceramente, não sei porque não deu certo. Essa talvez seja uma resposta para os dirigentes responderam. Com certeza são 12 camisas fortíssimas. Trabalhar em um desses clubes elevaria e muito o patamar do meu trabalho. Estou preparado para isso, mas com certeza não me pressiono. Aguardo e sigo trabalhando firme e forte nos clubes que me oportunizaram. Dou sempre meu melhor. Quem sabe um dia, um desses 12 clubes me conceda a possibilidade de desenvolver um projeto, como outros têm me dado, embora meu nome já tenha sido ventilado em muitos deles. O fato de não ter dado certo não me abala. Sigo trabalhando, fazendo meu melhor e aguardando por outras possibilidades.