Os juros futuros dispararam nesta segunda-feira, refletindo a deterioração do cenário externo e fiscal. As taxas subiam desde manhã e ampliaram o ritmo de alta à tarde, fechando nas máximas a partir dos vértices intermediários, após a confirmação da mudança da meta de primário para 2025, ainda que a alteração já fosse esperada. Ao mesmo tempo, os temores em relação à política monetária do Federal Reserve e as tensões geopolíticas seguiram como base de sustentação para a forte abertura da curva de juros.
No fechamento, a taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,160%, de 10,066% no ajuste de sexta-feira, a e ao DI para janeiro de 2026 subia de 10,21% para 10,44% (máxima. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,75%, de 10,53%. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 11,35%, na máxima (de 11,07%).
O ministro Fernando Haddad, em entrevista à Globonews, confirmou a mudança da meta de 2025 para primário zero, assim como o alvo deste ano, alterando o objetivo de superávit de 0,5% do PIB. A intenção da alteração já havia sido ventilada pela imprensa na semana passada, mas ainda assim foi mal recebida. "Não deixa de ser um recado do mercado para o governo, de demonstrar insatisfação com o que está sendo feito", afirmou o sócio da Davos Investimentos, Marcelo Boragini.
Depois da entrevista de Haddad, o Ministério do Planejamento divulgou o Projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que trouxe a meta fiscal de 2025 alterada para neutra, com bandas de 0,25 ponto porcentual.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, frisou, durante evento em Nova York, que, se há perda de credibilidade ou transparência no fiscal, aumentam os custos da política monetária, mas ponderou que "o mercado tinha um número muito pior para o fiscal do que a nova meta realmente adotada", em referência à alteração.
Economistas avaliam que o arcabouço fiscal, já fragilizado na semana passada pela autorização para a antecipação de gastos de R$ 15 bilhões, está sob ataque e as investidas contra o marco enviam um sinal ruim sobre a perspectiva para a trajetória da dívida nos próximos anos.
"Se a dívida caminha para crescer expressivamente até o fim de 2026, isso faz com que a gente seja obrigado a conviver com um juro real muito alto, próximo de 6%", explicou economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, em entrevista ao repórter Cícero Cotrim.
O estresse da cena fiscal ocorre simultaneamente ao turbulento quadro externo. O ataque do Irã a Israel no sábado foi absorvido pelo mercado de petróleo e a commodity fechou em baixa, sob a leitura de que a ofensiva foi "um recado", sem grandes impactos materiais na medida em que os drones foram neutralizados pelos sistemas de defesa de Israel. O risco de um conflito mais amplo no Oriente Médio, no entanto, está longe de se dissipar, a depender da resposta de Tel Aviv.
O que mais vem pesando sobre a curva doméstica, porém, é a esticada das taxas dos Treasuries, com o aumento do ceticismo sobre os cortes de juros nos Estados Unidos, hoje com as vendas no varejo norte-americano subindo 0,7% em março, quase o dobro do consenso (+0,4%). O mercado voltou a dar mais probabilidade de que a primeira queda de juros venha só em setembro. O rendimento da T-Note superou hoje os 4,60%.
Ainda que o Banco Central mantenha o discurso de que não há relação mecânica entre o juros aqui e lá, o próprio ministro Haddad afirmou que não há como negar que o patamar do juro americano influencia a economia brasileira e avaliou não ser "pouca coisa pagar 5,5% de juro ao ano em dólar". O ministro ponderou, no entanto, que ainda há espaço para o Banco Central brasileiro promover cortes na Selic.