A cheia na região metropolitana de Porto Alegre deve durar até o início do mês de junho, segundo relatório do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Lago Guaíba permanece acima dos 4 metros, mas a baixa será lenta, com o nível acima da cota de inundação, de 3 metros, pelo menos até o final deste mês.
Há risco de novas chuvas atrasarem o escoamento das águas que ainda cobrem grande parte da capital gaúcha, o que levaria a cheia a adentrar o mês de julho.
Conforme a agência de meteorologia MetSul, com a previsão de chuvas de moderadas a fortes para o período de terça a quinta-feira desta semana, o cenário que ainda é crítico pode se agravar. As chuvas devem ocorrer na área do Guaíba e nas bacias dos rios contribuintes, o que não só frearia o ritmo de baixa, como pode causar pequena elevação na enchente.
"Há o agravante da Lagoa dos Patos que está com nível muito acima do normal, o que torna a baixa do Guaíba mais lenta", disse a MetSul.
– Depois de baixar durante o domingo, 19, o nível do Guaíba voltou a ter alta na madrugada desta segunda-feira, 20, atingindo 4,31 metros às 6 horas da manhã.
– O pico da cheia foi registrado no dia 5, quando a água atingiu 5,35 metros.
– No domingo, 12, com as chuvas no interior, a enchente apresentou um repique e, na terça-feira, 14, voltou aos 5,20 metros.
De acordo com o pesquisador Rodrigo Cauduro Dias de Paiva, especialista em recursos hídricos e professor do IPH que participa dos estudos, era esperado um ritmo lento da descida das águas porque isso já aconteceu na cheia de 1941, até então a maior da história, quando o Guaíba atingiu 4,76 metros.
"Naquela cheia, as águas demoraram 20 dias para baixar mesmo tendo um volume de água menor do que a atual. O que aconteceu de lá para cá é que a população cresceu bastante e ocupou as áreas de várzeas dos rios Jacuí, dos Sinos e Caí que estão conectados com o Guaíba. O impacto, agora, foi muito maior e o tempo de escoamento também aumenta", disse.
A MetSul reforçou que Porto Alegre deve começar o mês de junho ainda sob as condições da cheia no Guaíba, com áreas da cidade alagadas.
"Estamos sob a maior cheia documentada em 150 anos de medições no Guaíba. O pico no começo do mês foi mais de meio metro superior ao de 1941 quando a enchente, menor do que esta, atingiu o pico em dez dias e as águas levaram mais 20 dias para baixarem. O Guaíba, mesmo baixando, ainda está 1,70 metro da cota de transbordamento e quase três metros acima da cota de cheia", informou a agência.
Para o pesquisador do IPH, a condição geográfica da região pode ser uma das explicações para esse processo.
"As chuvas que caem na região de serras e vales, como o dos Sinos e do Caí formam um grande volume de água que escoam rapidamente devido à topografia. Ao atingir a região de planícies do Jacuí e do Taquari, essa água se espalha e vai escoando de forma mais lenta. Se por um lado a água chega com menos força em Porto Alegre, por outro o escoamento também é gradual e mais demorado", disse ao <b>Estadão</b>.
Ele citou também outros fatores, como o vento sul que atua sobre a Lagoa dos Patos e o Guaíba, retardando o escoamento. "Já a saída da Lagoa dos Patos para o mar, não é uma saída enorme e pode trancar um pouco o fluxo, mas esse não é o fator mais determinante na retenção da enchente. O problema é o volume de água chegando ao mesmo tempo. É como uma rodovia: se todos os veículos saem juntos para um mesmo destino, vai haver congestionamento na chegada", comparou.
<b>Mais chuva</b>
A preocupação no momento, segundo ele, são as possíveis chuvas. No início da semana passada choveu mais de 150 milímetros em grande parte das bacias do Guaíba e houve nova subida das águas. "Há previsão de chuva em grande parte do Estado a partir desta semana. Ainda não está claro se vão cair mais ao sul ou ao norte, mas pode retardar o fim desta enchente", avaliou.
A descida das águas será apenas o início da volta ao normal no Rio Grande do Sul. Em muitas cidades onde as águas já baixaram, o pavimento das ruas já não existe e elas estão cobertas com até um metro de lama e detritos. Em outras, como Pelotas, Rio Grande e São José do Norte, à margem da Lagoa dos Patos, a água ainda está alta. Em Porto Alegre, bairros inteiros estão alagados e sem saneamento.
Quando falou com a reportagem, na sexta-feira, o pesquisador da UFRGS estava sem água em casa. "Nem posso reclamar porque tem muita gente em situação bem pior", disse.
Os pesquisadores do IPH recomendam atenção especial da população afetada para os riscos que ainda existem de um novo repique da cheia devido às chuvas e ações imediatas de órgãos públicos para o restabelecimento de infraestruturas e manutenção de serviços essenciais, como o saneamento básico.
Além de Paiva, participaram da elaboração do relatório do IPH o professor Fernando Fan e o engenheiro Matheus Sampaio.