A curva de juros perdeu um pouco mais de inclinação nesta quinta-feira, 11. O IPCA acima das estimativas reforçou as apostas no aperto monetário a partir do Copom de março, pressionando a ponta curta e abrindo espaço para devolução de prêmios nas taxas longas, estimulada ainda pela melhora na percepção de risco fiscal. A despeito da desidratação da PEC Emergencial na Câmara em relação à que saiu do Senado, prevaleceu a leitura de que as reformas em Brasília estão avançando. Trouxe alívio, ainda, a oferta pequena do Tesouro nos prefixados longos, vista como um fator a menos a estressar o mercado. No fechamento do dia, as taxas curtas tinham viés de alta e as longas recuaram.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 4,11% (regular) e 4,13% (estendida), de 4,046% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 5,854% para 5,88% (regular) e 5,905% (estendida). O DI para janeiro de 2025 terminou com taxas de 7,35% (regular) e 7,37% (estendida), de 7,426% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,88% (regular) e 7,90% (estendida), de 8,024%.
Houve surpresa negativa com o IPCA, que subiu 0,86% em fevereiro, superando o teto das previsões (0,80%) e sendo o maior para o mês desde 2016 (0,90%). Não por acaso, houve nova rodada de elevação das estimativas de inflação em 2021, como as do BNP Paribas (de 4% para 5%), Credit Suisse (4,8% para 5,1%) e BofA (4% para 4,6%), que vão se distanciando do centro da meta de 3,75% e se aproximando do teto de 5,25%. Na esteira do IPCA e das revisões, o mercado ampliou as fichas na aposta de alta de 0,75 ponto porcentual no Copom da semana que vem, que já é levemente majoritária na curva ante a expectativa de alta de 0,5 ponto. A precificação segue apontando taxa básica perto de 6% no fim do ano, mais precisamente de 5,86%.
"O IPCA mais alto coloca fogo na discussão sobre o aumento do juro, ainda mais com a liberação do auxílio emergencial", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier.
A percepção de que a agenda de reformas, bem ou mal, está andando em Brasília também ajudou a desinclinar a curva. "A PEC não pode ser considerada boa, tem uma série de problemas, mas o mercado olha pela ótica do avanço", disse Xavier.
Ao manter a oferta pequena de NTN-F no leilão desta quinta, o Tesouro evitou pressão sobre a curva. O lote foi novamente de 100 mil (50 mil para 2027 e 50 mil para 2029), mas com demanda fraquíssima, de apenas 4,5 mil no papel para 2027. A NTN-F é um título normalmente de interesse dos não-residentes, cujo fluxo foi afugentado nas últimas semanas. "Desde o episódio sobre o comando da Petrobras, há problemas de fluxo estrangeiro em todos os ativos", disse Xavier.
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