Esta terça-feira, 5, foi o terceiro dia seguido de valorização do dólar, destoando da melhora vista mais cedo na Bolsa, que acompanhou o bom humor externo com o início da reabertura de algumas economias e estados americanos. Profissionais de câmbio relatam que o ambiente político conturbado pesou novamente e fez o real mais uma dia ser destaque de piora ante o dólar no exterior, considerando uma cesta de 34 divisas, além também da perspectiva de novo corte de juros amanhã pelo Banco Central. No final desta tarde, a moeda americana acelerou o ritmo de alta e renovou máximas após a divulgação da íntegra do depoimento do ex-ministro Sergio Moro, feito no último sábado na Polícia Federal em Curitiba. No mercado à vista, o dólar fechou em alta de 1,30%, cotado em R$ 5,5925. No futuro, o dólar junho era negociado no final da tarde acima do nível de R$ 5,60.
A economista-chefe e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, ressalta que novamente a questão política pesa no mercado cambial. Hoje, o presidente Jair Bolsonaro voltou a se exaltar com a imprensa e segue passando a imagem ao exterior de estar na contramão mundial no processo de combate à pandemia, ressalta ela. Além disso, desde ontem já havia o temor do conteúdo do depoimento de Moro, que agora começa vir à tona. "Embora a Bolsa esteja repercutindo a melhora externa, com a reabertura de algumas economias, o dólar capta as questões locais, e aqui dentro a gente vê queda de braços no mundo político."
Projetos de votação estão avançando no Congresso, com a análise hoje na Câmara, em segundo turno, da PEC do Orçamento de Guerra e também do socorro a Estados e municípios. Mas ficaram em segundo plano com o depoimento de Moro. Os primeiros relatos do depoimento mostraram que o ex-juiz disse a investigadores que Bolsonaro explicitou que queria mudanças na superintendência da PF no Rio de Janeiro. O ex-ministro relatou uma mensagem de Bolsonaro que tinha o seguinte teor: "Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro".
A consultoria de risco político Eurasia, com sede em Washington, avalia que o conteúdo do depoimento de Moro pode ajudar a balizar a probabilidade de impeachment de Bolsonaro, por enquanto considerada baixa. Contudo, os analistas políticos da Eurasia só esperavam que o teor das declarações viesse a públicos "em meses", e não em dias, como ocorreu.