Estadão

Trabalhista assume país em crise, com plano de arrecadar mais em impostos

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, se tornou nesta sexta-feira, 5, o primeiro-ministro do Reino Unido após uma vitória histórica que garantiu à legenda 412 das 650 cadeiras no Parlamento. Em meio à esperança de novos tempos, o momento é de cautela. Segundo analistas, os trabalhistas, que voltam ao poder após 14 anos, precisarão alinhar suas propostas à realidade de um país em crise econômica.

Em seu manifesto, as melhorias propostas pelo Partido Trabalhista seguem linhas convencionais. Prometendo investimentos em serviços públicos de saúde, construção de moradias e um sistema de planejamento, a legenda garantiu a vitória sem muita ousadia em suas propostas. "Eles são convencionais e propõem melhorias similares as do Partido Conservador, mas com motivos e formas diferentes", afirma Andrew Crines.

Do ponto de vista fiscal, segundo Ellis, os dois partidos também têm formas parecidas. "Sunak foi eleito por conseguir a confiança do eleitorado sobre impostos. Já o Partido Trabalhista prometeu aumentar impostos, mas sem prejudicar a maioria da população. O partido precisa agora é dar continuidade ao que estava sendo feito", diz Ellis

Em Downing Street, residência e escritório oficial do primeiro-ministro, uma multidão acompanhou a chegada de Starmer e de membros do novo gabinete. Duas eleitoras dele, Mauren e Monica, mãe e filha, saíram da Escócia para prestigiar Starmer. "Ele (Starmer) é um grande homem. A gente confia que ele possa tratar bem assuntos como o sistema de saúde e assistência social", afirmou Mauren.

Do outro lado da rua, com uma bandeira da União Europeia, o casal Martyn e Vivian fazia um protesto: originário da Romênia, país que luta para entrar no bloco europeu, ele lamentou o Brexit. Os dois dizem não ser apoiadores do Partido Trabalhista, mas estavam felizes com a eleição. "Queríamos tirar os tories (conservadores, do poder)", disseram.

<b>Prioridades</b>

Depois de ser convidado pelo rei Charles III para formar governo no Palácio de Buckingham, Starmer discursou do lado de fora, em Downing Street, prometendo reconstruir o Reino Unido e fazer um "governo de serviço". O primeiro-ministro, no entanto, afirmou que as mudanças não serão sentidas de uma hora para outra. Com ele, estava Rachel Reeves, a primeira mulher a se tornar secretária do Tesouro. Para o posto de chanceler, foi escolhido um advogado negro, David Lanny.

Para analistas, o partido precisará definir suas prioridades, adequando aquilo que foi prometido aos eleitores à realidade do Reino Unido, que nos últimos anos vem enfrentando uma crise econômica. "Fala-se muito sobre investir no sistema de saúde, zelar pela educação de nível superior e dar fim nas altas dívidas do governo, mas isso são apenas expectativas agora", disse o professor Andrew Crines, do departamento de política da Universidade de Liverpool.

Para Crines, o cenário político e econômico atual requer cuidado. "Eles (trabalhistas) pegaram o sistema em um estado precário e terão de tomar medidas muito seletivas para o que vem pela frente", explica.

Para Colin Ellis, da Bayes Business School, em Londres, não é um grande momento econômico para o país. "Não é como a posse do Partido Trabalhista em 1997 (de bom momento econômico). Desta vez, eles herdaram grandes desafios", disse.

Com o PIB patinando, com crescimento caindo de 1,6%, em 2019, para 0,1%, em 2023, e uma evidente crise no setor de saúde, Starmer herdou uma difícil herança de uma sequência de cinco governos conservadores. "Ele não tem muito o que fazer de novo agora. O desafio é simplesmente conseguir manter as coisas girando. Depois disso, podemos falar em melhorias", afirma Ellis.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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