Os juros futuros fecharam a sexta-feira em alta, apesar da queda dos rendimentos dos Treasuries e da melhora do câmbio durante o dia, pressionadas por mais um indicador surpreendente de atividade na semana – o de serviços – e pelas preocupações com o cenário fiscal, em especial os sinais de impasse nos projetos de desoneração da folha de pagamentos e o da renegociação da dívida dos Estados.
No fechamento, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,595%, de 10,590% no ajuste de ontem, e o DI para janeiro de 2026, taxa de 11,14%, de 11,07%. A do DI para janeiro de 2027 subia de 11,28% para 11,34% e a do DI para janeiro de 2029, de 11,60% para 11,65%.
A curva vinha devolvendo prêmios de forma consistente desde a sinalização de corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias no Orçamento de 2025, das declarações do presidente Lula em torno da responsabilidade fiscal e com o IPCA de junho abaixo do piso das estimativas nesta semana. O exterior também ajudou com aumento das apostas no início dos cortes de juros nos EUA em setembro e num orçamento total que pode chegar a 75 pontos este ano.
Hoje, porém, uma possível nova rodada de alívio ficou comprometida, a despeito dos rendimentos dos Treasuries terem caído mais, com o da T-Note de dez anos chegando ao fim do dia na casa de 4,18%, mesmo com a inflação no atacado norte-americano vindo acima do consenso. "A curva já tinha fechado bem até o IPCA, mas aí tivemos dois dados fortes de atividade e notícias ruins pelo lado fiscal", explica o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti, lembrando que no dia 22 sai o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas. Nas contas do mercado, o relatório deve trazer um contingenciamento/bloqueio de recursos na faixa de R$ 10 bilhões, muito abaixo dos cerca de R$ 30 bilhões vistos como necessários.
Na esteira das vendas do varejo em maio ontem melhor do que o esperado, hoje a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) apontou estabilidade para o mesmo mês, na margem, contrariando a mediana que apontava recuo de 0,7% e reforçando o viés de alta nas projeções para o PIB do segundo trimestre. Assim como no varejo, também nos serviços o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul pareceu ter sido superestimado pelos analistas.
Do ponto de vista da política monetária, esse contexto da atividade endossa a ideia de que na melhor das hipóteses a Selic deve seguir em 10,50% pelo menos até o fim do ano, sem espaço para cortes. Até porque não há folga no noticiário fiscal, agora com a falta de avanço nos projetos que estão no Congresso que representam melhora nas receitas do governo.
No caso da desoneração da folha, cujo impacto é calculado em R$ 18 bilhões, a Fazenda argumenta que as opções apresentadas pelo Senado não são suficientes para cobrir a renúncia e sugeriu faixas de aumento da CSLL para "todo o mundo" de forma temporária, solução que está sendo rechaçada pelos parlamentares. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), hoje subiu o tom. Disse que "não há receptividade política" para essa elevação e sugeriu que há uma tentativa por parte do Executivo de "sabotar" o projeto.
Há também dificuldade num acordo entre o Senado e Executivo no projeto da sobre dívida dos Estados. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou hoje que o indexador da dívida proposto no projeto apresentado por Pacheco, de IPCA + 4%, é insustentável, e que o texto precisa ser revisado.
"A ideia do corte de quase R$ 26 bilhões em despesas foi bem recebida e traz um alívio de curto prazo, mas o médio e longo prazo preocupam. A questão é a trajetória de sustentabilidade da dívida nos próximos anos", afirma Beyruti, para quem "não é crível" abordar a questão fiscal só pelo lado da receita.