Estadão

Relembre as vezes em que políticos brasileiros foram alvos de atentados como o de Donald Trump

Um atentado neste sábado, 14, feriu o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com um disparo de arma de fogo na orelha direita. Esse é mais um caso de violência política no território americano, que já teve quatro presidentes assassinados no exercício do cargo. No Brasil, a história do poder também é marcada por ataques contra políticos – muitos deles malsucedidos, como foi o de Trump.

O atentado contra Trump aconteceu durante um comício em Butler, na Pensilvânia. O atirador, que está registrado como um eleitor republicano de 20 anos, foi morto pelos agentes do Serviço Secreto dos EUA. Um apoiador do ex-presidente também morreu no ataque e outro dois ficaram gravemente feridos.

Assim como nos Estados Unidos, a violência política também é comum no Brasil. Uma pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) mostrou que 103 crimes políticos ocorreram durante a reta final das eleições de 2022. Entre os incidentes, foram registrados dez atentados e 13 homicídios. Na história do País, políticos como Jair Bolsonaro, José Sarney e d. Pedro II foram alvos de ataques por parte de pessoas anônimas e as consequências dos episódios moldaram o contexto de diferentes épocas.

<b>Facada em Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018</b>

No dia 6 de setembro de 2018, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi esfaqueado na região do abdômen por Adélio Bispo de Oliveira. O crime se deu durante um comício em Juiz de Fora (MG), enquanto Bolsonaro, então deputado federal e pré-candidato à Presidência pelo PSL (atual União Brasil) era carregado por apoiadores.

O golpe de faca perfurou em três partes o intestino delgado do então candidato, provocando traumatismo abdominal e hemorragia interna. Em relatório oficial, a Polícia Federal (PF) disse que Adélio agiu sozinho. A Justiça Federal, por sua vez, decidiu que o autor do crime é inimputável por sofrer de transtorno delirante persistente. Atualmente, ele está recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Após o atentado contra Trump, bolsonaristas tentaram associar os dois crimes para culpabilizar a esquerda pelo "crescimento da violência política". Militantes de esquerda e o deputado federal André Janones (Avante-MG) sugeriram que o ataque contra o republicano seria uma "armação" como teria sido o episódio em Juiz de Fora, segundo eles. Não há provas que endossem a fabricação dos dois atentados.

<b>Desempregado tenta jogar avião no Palácio do Planalto para matar Sarney</b>

Às 9 horas do dia 29 de setembro de 1988, um desempregado sequestrou um Boeing 737-300 da extinta Viação Aérea São Paulo (Vasp), que fazia rota entre Belo Horizonte e o Rio, e ordenou que a aeronave fosse atirada no Palácio do Planalto, em Brasília, na intenção de matar o então presidente da República José Sarney.

Armado com um revólver calibre 38 e mais de 90 munições na bagagem, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, iniciou o sequestro que durou nove horas. O desenlace do incidente foi recentemente representado no filme "O Sequestro do Voo 375", que estreou nos cinemas em dezembro do ano passado.

Após fazer manobras arriscadas para neutralizar o sequestrador, o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva conseguiu pousar a aeronave em Goiânia. Raimundo Nonato foi capturado por policiais enquanto tentava trocar de aeronave. Outro óbito no episódio foi o do copiloto Salvador Evangelista, que foi vítima de um disparo na cabeça.

<b>Presidente da ditadura foi alvo de atentado a bomba no Recife</b>

Era 25 de julho de 1966 quando um artefato explodiu no saguão do Aeroporto de Guararapes, no Recife, e matou o vice-almirante Nelson Gomes Fernandes e o jornalista e secretário de governo de Pernambuco Edson Régis de Carvalho, além de deixar 14 feridos. O alvo era o então ministro do Exército e futuro presidente da República, general Artur da Costa e Silva, que não estava no terminal.

Posteriormente, foi descoberto que autoria do crime foi do jornalista e ex-padre Alípio Cristiano de Freitas, um dos fundadores das Ligas Camponesas no Nordeste, ao lado do ex-deputado federal Francisco Julião.

<b>Disparos contra Carlos Lacerda deflagram crise política</b>

Principal opositor do presidente Getúlio Vargas, o jornalista e futuro governador da Guanabara (Estado extinto que corresponde ao atual município do Rio) foi alvo de um atentado no dia 5 de agosto de 1954, na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana. O ataque malsucedido ajudou a levar à derrocada de Getúlio, que cometeria suicídio no palácio presidencial 19 dias depois.

No episódio, Lacerda foi atingido com um tiro no pé e um major da Aeronáutica de 32 anos, Rubens Vaz, foi morto com dois disparos. Por conta da morte do militar, foi aberto um inquérito policial militar (IPM) que determinou que o mandante do crime foi Gregório Fortunato, chefe da guarda presidencial de Getúlio.

Após o crime, Lacerda, os militares e setores da opinião pública fizeram pressão para que Getúlio renunciasse ao cargo. A crise política deflagrada pelo atentado arrefeceu apenas após a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956.

<b>Primeiro presidente paulista é vítima de atentado que matou ministro</b>

O presidente Prudente de Morais, primeiro chefe do Executivo civil e paulista, quase foi assassinado no exercício do seu cargo. O episódio se deu em 5 de novembro de 1897, quando ele recebia no Rio os soldados que retornavam da Guerra de Canudos.

Durante a solenidade, um militar chamado Marcelino Bispo de Melo apontou uma garrucha em direção a Prudente. O ministro da Guerra (atual Ministério da Defesa) Carlos Machado de Bittencourt se prostrou na frente da arma, e foi apunhalado diversas vezes, não resistindo aos ferimentos.

O vice-presidente do País à época, Manuel Victorino, chegou a ser processado como suposto mandante do assassinato de Prudente. Mas, por falta de provas, ele foi absolvido. Apesar disso, a carreira política de Victorino acabou prejudicada pelo episódio.

<b>Imperador d.Pedro II quase foi assassinado meses antes da Proclamação da República</b>

Em meio à crise política que deflagrou a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, o imperador d.Pedro II quase foi morto em um atentado a tiros no Rio.

A trama ocorreu em julho daquele ano na atual Praça Tiradentes. O monarca estava na carruagem dele, quando foi surpreendido por um português de 20 anos chamado Augusto do Valle que desferiu um tiro enquanto entoava vivas à República.

O disparo não atingiu o monarca e, quando foi instaurada a República, ele foi para o exílio na Europa, morrendo em 1891. Augusto do Valle foi absolvido do crime e faleceu em 1903, aos 36 anos, de tuberculose pulmonar.

<b>História do País também é marcada por assassinatos políticos</b>

Na história da política brasileira, também estão presentes assassinatos políticos. Em março deste ano, a PF prendeu os mandantes do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), que foi executada no centro da capital fluminense em março de 2018.

Segundo as investigações, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), o desembargador do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Brazão e o delegado de polícia Rivaldo Barbosa executaram a vereadora devido a conflitos ligados a grilagem de terras na zona oeste da cidade.

Há quase 95 anos, a Revolução de 1930 foi deflagrada por Getúlio Vargas e seus aliados após o assassinado do então candidato a vice-presidente da Aliança Liberal (AL) e ex-governador da Paraíba João Pessoa. Beirando a marca de um século após o crime, ainda discute-se se o episódio, sucedido no Recife, foi um crime passional ou um atentado com razões políticas.

Em dezembro de 1963, o senador Arnon de Mello (PDC-AL) iniciou um tiroteio dentro do plenário do Senado na intenção de matar o colega Silvestre Péricles (PTB-AL), rival político dele no Estado. A troca de tiros acabou vitimando o suplente José Kairala (PSD-AC). Arnon é pai do ex-presidente Fernando Collor (PRD), que governou o País entre 1990 e 1992.

No dia 16 de dezembro de 1998, a deputada federal Ceci Cunha (PSDB-AL) foi executada a mando de Talvane Albuquerque (PFL), colega dela na Câmara dos Deputados que precisava da imunidade parlamentar para driblar processos judiciais, mas que amargou a suplência nas eleições daquele ano. Em 2012, Talvane foi condenado a 103 anos de prisão. Em 2021, ele ganhou direito ao regime semiaberto. Ceci é mãe do senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL).

Posso ajudar?