O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu ao Palácio do Planalto uma ligação telefônica para conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meio à crise política no país e as acusações de que houve fraude eleitoral por parte da ditadura chavista. A Presidência da República disse, no entanto, que não há ainda previsão de que Lula e Maduro conversem ao telefone.
O governo brasileiro não reconheceu a alegada reeleição e pede que o regime chavista apresente as atas eleitorais que comprovariam a vitória. Apesar da posição oficial, o presidente Lula disse esta semana que "não tem nada de grave, nada de anormal. Teve uma eleição. Teve uma pessoa que disse que teve 51%. Teve uma pessoa que diz que teve quarenta e pouco por cento. Um concorda, outro não. Entra na Justiça, a Justiça faz", disse.
A ditadura chavista controla os órgãos eleitorais do país e também a Justiça e a Suprema Corte, com juízes apontados pelo regime e com decisões que nunca contrariam o chavismo.
Caso ocorra, o telefonema será o primeiro contato direto entre eles desde a votação presidencial contestada dentro e fora da Venezuela. Ambos são aliados próximos e Lula patrocinou uma reabilitação política externa de Maduro, mas depois de meses de manifestações passou a fazer críticas pontuais à proibição de candidatas da oposição e manifestou preocupação com declarações de Maduro de que poderia haver um "banho de sangue" no país caso não fosse vitorioso.
O pedido foi levado ao governo brasileiro por via diplomática, com a esperança de que pudesse ocorrer nesta quinta-feira, dia 1º de agosto. O Palácio tem por prática não divulgar os telefonemas entre chefes de Estado e de governo, até que ocorram, e costuma apenas informar em nota linhas gerais dos assuntos tratados.
O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Lula, voltou de Caracas na terça-feira, dia 30, onde liderou uma missão do governo brasileiro para manter contatos com o chavismo e a oposição e observar a realização das eleições. Ele teve encontro com Maduro no Palácio Miraflores.
Na noite desta quarta-feira, dia 31, Maduro afirmou em coletiva de imprensa a meios de comunicação internacionais, realizada em Caracas, que vem conversando com presidentes da região. Ele disse ter conversado, por exemplo, com o presidente colombiano Gustavo Petro.
Brasil, Colômbia e México – todos governos de esquerda latino-americanos – são três dos países que lideram iniciativas de diálogo com a ditadura chavista, numa estratégia de tentar convencer, por meio da diplomacia, inclusive em nível presidencial, Maduro a atuar com transparência e apresentar dados desagregados por seções de votação, a fim de provar que ele venceu a eleição no domingo passado, dia 28.
O chavista alega ter vencido o pleito marcado por restrições à participação de opositores. O Conselho Nacional Eleitoral, controlado pela ditadura chavista, anunciou a vitória de Maduro com 51% contra 44% de González e promoveu rapidamente uma cerimônia de diplomação do ditador.
O principal observador internacional convidado pelo regime, o Centro Carter, disse que a eleição não foi democrática e não tem condições de atestar a lisura do pleito. O resultado passou a ser questionado por governos de direita e de esquerda – caso, por exemplo, de Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina.
Brasil, México e Colômbia não reconheceram o resultado. Os chanceleres de Brasil, México e Colômbia têm mantido intenso contato para coordenar a reação. Eles conseguiram derrubar uma resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA).
O Itamaraty segue fazendo pressão para que o regime permita a "verificação imparcial dos resultados". Essa tem sido a tônica de manifestações oficiais do governo e seus representantes. O ministério diz que o governo brasileiro aguarda a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito.
Líderes da oposição, o candidato principal, Edmundo González Urrutia e a ex-candidata María Corina Machado, impedida de concorrer, agradeceram a postura oficial do Brasil, sem comentar declarações de Lula e de seu partido, o PT.
Com aval de Lula, o Partido dos Trabalhadores tratou Maduro como presidente reeleito em nota. Mas mesmo dentro do governo, do partido e na base parlamentar de Lula há discordâncias sobre endossar ou não a eleição suspeita de fraude.
Por meio da Casa Branca, o governo Joe Biden manifestou que a "paciência está acabando" com a espera pela divulgação de dados que permitam uma varredura no resultado das urnas.
Lula já conversou com Biden em chamada sobre o caso. Eles se comprometeram a atuar em coordenação e "concordaram com a necessidade de uma liberação imediata de dados eleitorais completos, transparentes e detalhados pelas autoridades eleitorais venezuelanas", conforme divulgaram o Planalto e a Casa Branca.
A União Europeia disse que não reconhecerá o resultado.
<b>No X, Maduro se coloca à disposição da Justiça</b>
Por meio de uma postagem em seu perfil no X (antigo Twitter), Maduro se colocou à disposição da Justiça do país para investigações, em meio à suspeita de fraude na apuração das urnas das eleições venezuelanas do último domingo, 28.
A oposição ao regime de Maduro e outros países, incluindo o Brasil e Estados Unidos, vem contestando a vitória do chefe do Palácio Miraflores, que obteve 51,2% dos votos e foi proclamado presidente pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão eleitoral do país.
"Apelando à Constituição da Venezuela, coloquei-me à disposição para ser submetido a qualquer investigação que seja requerida pelo TSJ Tribunal Supremo de Justiça", escreveu Maduro. "De maneira soberana, canalizaremos esta situação e a superaremos com a lei e as instituições. A Venezuela tem uma classe trabalhadora consciente, mobilizada e alerta. Haverá paz e justiça na Venezuela!", concluiu na publicação.