Governo etíope diz que controla região rebelde; líder opositor nega

O governo da Etiópia disse na terça-feira, 24, que suas forças controlaram a maior parte da região de Tigré, no norte do país, e agora estão posicionadas a cerca de 50 quilômetros da capital regional, Mekele. O líder de Tigré nega o cerco das tropas federais.

O ministro das Relações Exteriores da Etiópia e porta-voz da força-tarefa de emergência do governo, Redwan Hussein, afirmou que a maioria das grandes cidades de Tigré, como Axum, Adwa e Adigrat, foram retiradas do controle da Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT), que governa a região, pelas forças federais.

"Em geral, a região de Tigré está sob o controle de nossas forças de defesa", disse Hussein ontem na capital, Adis-Abeba.
Desde o início do conflito, em 4 de novembro, a região foi isolada e as linhas de telefone e cabos de internet foram cortados, impedindo uma verificação independente dos desdobramentos do confronto.

A incursão do Exército em Tigré foi iniciada após meses de tensão entre o governo federal e a FLPT, que governou o país por décadas e acusa o atual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, de perseguição desde que ele assumiu o cargo em 2018.

Segundo autoridades da região, 100 mil pessoas já tiveram de deixar suas casas por causa dos confrontos. De acordo com a Reuters, cerca de 40 mil etíopes fugiram para o vizinho Sudão.
No domingo, Abiy deu um ultimato de 72 horas para que as forças de segurança de Tigré se rendessem, avisando que suas tropas iniciarão uma ofensiva contra Mekele se a demanda não fosse atendida.

Um porta-voz militar, o coronel Dejene Tsegaye, afirmou também no domingo que "as próximas fases são uma decisiva parte da operação, que é cercar Mekele com tanques". "Queremos enviar uma mensagem à população de Mekele para que se proteja de qualquer ataque de artilharia e se liberte da FLPT. Depois disso, não haverá misericórdia", disse.

No Twitter, a diretora da Human Rights Watch para o Chifre da África, Laetitia Bader, afirmou que o porta-voz estava ameaçando os moradores da capital de Tigré. "Tratar uma cidade inteira como um alvo militar não seria apenas ilegal, como também pode ser considerado uma forma de punição coletiva", escreveu Bader.
O procurador-geral da Etiópia, Gedion Timothewos, afirmou que os comentários e as ações da FLPT, incluindo uma rebelião armada e o disparo de foguetes contra a região de Amhara – que apoia o governo federal e tem milícias lutando ao lado de Abiy -, são crimes graves e as autoridades regionais podem ser acusadas de traição e terrorismo.

As afirmações sobre os desdobramentos do conflito feitas pelo governo federal são diferentes das fornecidas pelas autoridades de Tigré e não há um número oficial de mortos. Debretsion Gebremichael, o governante da região, disse que suas forças sofreram um mínimo de baixas enquanto um grande número de soldados federais foi morto. "Até o momento, não existe esse cerco", disse ontem em uma mensagem de texto. "Ele (Abiy) não entende quem nós somos. Somos um povo de princípios e estamos prontos para morrer em defesa do nosso direito de administrar a região."

A ONU e outros grupos de ajuda humanitária dizem estar extremamente preocupados com a segurança dos mais de 500 mil moradores de Mekele, incluindo cerca de 200 trabalhadores humanitários, que podem ser afetados pelo conflito, disse Saviano Abreu, porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários. "Pedimos a todas as partes do conflito que cumpram suas obrigações segundo o Direito Internacional Humanitário e protejam os civis e a infraestrutura civil", disse. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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