Guarulhos é uma das cidades paulistas que integram a rede de monitoramento contra a Lobesia botrana, também conhecida como traça europeia dos cachos da videira — uma praga quarentenária ausente no Brasil, mas que representa risco significativo para a produção de uvas. A cidade sedia uma das armadilhas inspecionadas quinzenalmente por auditores fiscais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) no Estado de São Paulo.
O ponto estratégico escolhido é o Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde funciona uma unidade do sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro). Por ali circulam diariamente cargas e bagagens oriundas de diversas partes do mundo, o que torna o local sensível à entrada de produtos contaminados.
Essas armadilhas fazem parte do Plano Nacional de Prevenção e Vigilância da Lobesia botrana, regulamentado pela Portaria nº 33/2020. A mariposa é uma das principais pragas da videira na Europa e também já foi identificada em países como Estados Unidos, Argentina e Chile. A presença dela nos parreirais brasileiros poderia causar prejuízos econômicos e ambientais, já que o ataque da traça abre caminho para outras doenças, especialmente fúngicas.
As armadilhas utilizadas são do tipo Delta, contendo feromônios sexuais que atraem os insetos. Quando se aproximam, eles ficam presos a uma base adesiva. Os materiais utilizados são importados com autorização do Mapa e distribuídos aos Estados que realizam o monitoramento: São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco.
Segundo o Mapa, o monitoramento é contínuo desde 2018, abrangendo tanto a safra normal quanto a safrinha. No Estado de São Paulo, além de Guarulhos, há armadilhas instaladas em locais estratégicos como a Ceagesp, o Porto de Santos e propriedades rurais em municípios com produção de uva, como São Miguel Arcanjo, Jundiaí, Pilar do Sul e Indaiatuba.
Em 2023, foram realizadas 286 verificações nas armadilhas paulistas, com dois insetos suspeitos enviados para análise. Em 2024, até agora, foram feitas 89 verificações e quatro amostras foram encaminhadas ao laboratório da Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves (RS). Nenhuma delas, porém, confirmou a presença da Lobesia.
“O Mapa implantou um programa de monitoramento de Lobesia botrana. Desde o início desta atividade, sempre que se encontra uma mariposa suspeita, os técnicos do Mapa me enviam amostra para confirmar se é Lobesia ou não. Esse ano, eu recebi as quatro amostras, mas nenhuma delas trata-se de Lobesia. Isso significa que felizmente não temos essa espécie danificando videiras no Brasil”, disse o pesquisador Marcos Botton.
Para a chefe do Serviço de Fiscalização de Insumos e Sanidade Vegetal de São Paulo (Sisv-SP), Carolina de Araújo Reis, o trabalho é fundamental para preservar a saúde da vitivinicultura nacional. “Com o avanço do conhecimento técnico, variedades e produtos, algumas regiões do Estado possuem duas safras ao ano, mantendo a cultura por pelo menos dez meses em campo, enquanto outras regiões mantêm a safra tradicional, que vai de setembro a fevereiro. Na região de Jales, o monitoramento ocorre entre abril a outubro durante a safra”, explicou Carolina.
O esforço conjunto entre o Mapa, a Secretaria de Agricultura de São Paulo e instituições de pesquisa como a Embrapa busca garantir que o Brasil continue livre da traça europeia, assegurando a competitividade do setor vitivinícola e protegendo a agricultura nacional.



