Logo após o fechamento da unidade do HAG (Hospital Animal de Guarulhos) na rua Luiz Gama, no Centro, a Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV) passou a cobrar R$ 26 pelas consultas, valor que permitia que famílias de baixa renda do município conseguissem atendimento para seus pets.
No entanto, a medida não agradou ao governo Lucas, que enviou equipes de fiscalização ao local para que também fossem interrompidos os atendimentos a preços populares. Segundo relatou Wilson Grassi, médico-veterinário responsável da SPMV, a Prefeitura alegou que faltavam documentos para que o hospital pudesse funcionar. Isso, de acordo com Grassi, não faria sentido, já que, há sete meses, o atendimento gratuito vinha sendo realizado normalmente no local.
“Até ontem a gente podia estar aberto. Hoje, não mais. Os cachorros não sabem quem é o prefeito. Isso é um absurdo”, declarou.
Para não deixar os animais doentes desamparados, médicos-veterinários da SPMV passaram a realizar os atendimentos na calçada, conforme mostrou o GWeb na quinta-feira. Novamente, a ação não agradou ao prefeito, que fez críticas em seu Instagram, em vídeo no qual anuncia o Castramóvel improvisado, visto como uma tentativa de substituir emergencialmente os hospitais implantados na gestão Guti. Segundo ele, a imprensa (tratada, na ocasião, como “jornalzinho”) estaria “tentando sensibilizar as pessoas com mentiras”. Lucas também ironizou os atendimentos emergenciais: “Agora eles querem cobrar pelo serviço, atender na calçada”, disse, em tom de deboche.
Veterinários da SPMV realizam atendimentos na calçada da rua Luiz Gama (Veja o vídeo clicando aqui)
Em entrevista ao GWeb nesta segunda-feira (14), Eduardo Ceresetti, um dos responsáveis pelos hospitais da SPMV na região Norte e coordenador dos cursos de pós-graduação da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, confirmou que as operações em Guarulhos foram interrompidas.
Segundo ele, a entidade recebeu ameaças e promessas de perseguição por parte do governo Lucas, caso os atendimentos não fossem encerrados. Ceresetti afirmou ainda que “Guarulhos está na contramão de tudo que é correto” e que não valeria a pena continuar prestando o serviço na cidade.
O veterinário contou que, nesta semana, a SPMV, que já possui 20 operações no Brasil, deve firmar parcerias com duas novas cidades. “Temos um ótimo tratamento e uma ótima relação com as prefeituras”, disse.
Entenda o caso
Os dois hospitais veterinários públicos de Guarulhos, inaugurados em 2023 durante a gestão do ex-prefeito Guti, deixaram de prestar atendimento gratuito à população após decisão do atual prefeito Lucas Sanches (PL). A mudança começou a valer no dia 10 de julho, quando a unidade do Centro passou a cobrar preços populares, e será concluída no dia 27, com o fim da gratuidade também no hospital do Pimentas.
A medida ocorreu após o rompimento do contrato entre a Prefeitura e a Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), que administrava os serviços. No entanto, desde o início do governo Lucas, os repasses para a entidade vinham sofrendo atrasos e cortes, dificultando a manutenção dos atendimentos. Apesar disso, os serviços eram bem avaliados pela população, o que gerou forte repercussão negativa nas redes sociais e na imprensa.
Em resposta à crise, o prefeito anunciou a implantação de novos hospitais veterinários 24 horas, mas sem apresentar local, data ou detalhes do projeto. Enquanto isso, a solução emergencial foi instalar um Castramóvel na Praça Getúlio Vargas, no Centro, anunciado por Lucas em vídeo nas redes sociais. Porém, o veículo ficou no local por apenas algumas horas e desapareceu, pegando os moradores de surpresa.
A Prefeitura, inicialmente, afirmou que o serviço funcionaria em ponto fixo de segunda a sexta-feira, mas, diante das críticas, mudou a versão, dizendo se tratar de um atendimento itinerante. A falta de planejamento e as declarações contraditórias aumentaram o desgaste do governo municipal, que ainda não apresentou alternativas concretas para retomar os serviços gratuitos à população.
Entidades de proteção animal, tutores e cuidadores vêm se mobilizando por meio de protestos, abaixo-assinados e manifestações online, pedindo a reativação dos hospitais até que os novos entrem em funcionamento. Especialistas em licitação afirmam que a criação de novas unidades pode levar ao menos 60 a 90 dias, o que deixaria a cidade sem atendimento gratuito até outubro ou novembro.



