O dólar teve nesta quarta-feira, 23, o quarto dia consecutivo de alta no Brasil, acumulando no período valorização de 6,7%, saindo de R$ 5,23 no fechamento do dia 17 e terminando hoje em R$ 5,5869, a cotação mais elevada desde 26 de agosto. O que ditou a piora do câmbio hoje foi o exterior, com o dólar ganhando força de forma generalizada e registrando os níveis mais altos em dois meses ante alguns rivais fortes, como o euro, e subindo forte nos países emergentes. No México, avançou 3,2%. O real e o peso mexicano foram as duas moedas com pior desempenho hoje em uma lista de 34 divisas mais líquidas.
Crescentes dúvidas dos investidores sobre o ritmo de recuperação da economia mundial, em meio ao aumento de casos de coronavírus na Europa e indicadores mistos da atividade nos Estados Unidos provocaram novo dia de fuga de ativos de risco.
No final do dia, a divulgação de uma pesquisa mostrando rápida mutação do coronavírus nos Estados Unidos, tornando-o mais contagioso, ajudou a azedar ainda mais o humor dos investidores. As bolsas caíram forte, puxadas no final da tarde pelas ações do setor de tecnologia, e dólar e iene subiram. O risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, derivativo de crédito que protege contra calotes na dívida soberana, deu um salto de 20 pontos, para 250 pontos, o maior nível desde final de junho.
"O número de casos de coronavírus na Europa continua a crescer rapidamente e é uma crescente ameaça à recuperação da economia", alerta a economista da consultoria inglesa Capital Economics, Melanie Debono, que vê riscos de piora das projeções de crescimento da casa para a economia mundial.
Para o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, os indicadores mostram uma "acomodação" do crescimento mundial. "A segunda onda está aí", destaca ele, ressaltando que a letalidade da covid agora é menor que na primeira onda e as medidas de isolamentos, mais brandas, mas certamente terão impacto negativo na atividade. Para ele, a incerteza sobre os rumos da atividade mundial deve durar de dois a quatro meses, o que pode deixar o mercado mais volátil neste período.
Em meio "ao mar de incertezas cada vez maior" na economia mundial sobre o ritmo de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), o analista de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, destaca que o dólar se fortaleceu e testou máximas ante várias moedas. Foi ao nível mais alto em dois meses ante o euro e a libra; ao patamar mais elevados em seis semanas ante o dólar canadense e desde agosto ante o dólar da Austrália e o da Nova Zelândia.