Em uma reviravolta inesperada, a oposição conseguiu assumir os dois principais cargos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará os descontos irregulares em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) foi eleito presidente da comissão, derrotando o favorito Omar Aziz (PSD-AM), indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, por 17 votos a 14.
Para a relatoria, Viana indicou o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A vitória da oposição representa uma derrota dupla para o governo Lula, que esperava controlar os rumos da CPMI por meio de seus aliados. A escolha de Viana e Gaspar frustrou os planos do Planalto, que pretendia evitar que a comissão se tornasse palco de embates políticos e revelações comprometedoras.
A reação foi imediata: o presidente Lula convocou uma reunião de emergência com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e líderes da base governista no Palácio da Alvorada. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também reuniu senadores e deputados para entender os motivos da derrota e tentar reorganizar a articulação política.
A CPMI investigará um esquema que realizou descontos ilegais em contracheques de 3,2 milhões de beneficiários do INSS, entre março de 2020 e março de 2025. Segundo a Polícia Federal, as fraudes foram cometidas por entidades de fachada, operadas por “laranjas”. O número de presos já chega a oito.
O governo teme que a comissão, agora sob comando da oposição, direcione os holofotes para figuras ligadas ao atual mandato, como o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi e até mesmo o irmão do presidente, o sindicalista Frei Chico. A expectativa é de que a CPMI tenha 180 dias de funcionamento, com possibilidade de prorrogação.
A derrota também expôs fissuras na base governista: parlamentares do MDB não compareceram à votação, permitindo que suplentes do PL votassem e ajudassem a garantir a vitória da oposição.
Com a presidência e a relatoria nas mãos da oposição, o governo Lula terá de lidar com uma CPMI potencialmente explosiva, que pode trazer à tona não apenas os detalhes da fraude bilionária, mas também fragilidades na gestão da Previdência.


