A música popular brasileira perdeu nesta segunda-feira (8) uma de suas vozes mais autênticas e marcantes. A cantora e compositora Angela Ro Ro faleceu aos 75 anos, no Rio de Janeiro, vítima de uma parada cardíaca após complicações decorrentes de uma infecção. A artista estava internada desde junho e enfrentava uma série de problemas de saúde, incluindo uma traqueostomia e dificuldades motoras e de fala.
Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves, ela recebeu o apelido “Ro Ro” ainda na infância, por conta de sua voz grave. Começou a estudar piano clássico aos cinco anos e, ao longo das décadas, construiu uma carreira pautada pela originalidade, intensidade e coragem. Seu primeiro grande sucesso veio em 1980 com a canção “Amor, Meu Grande Amor”, apresentada em um memorável show no Teatro Fênix, onde surgiu vestida de smoking, rompendo padrões e revelando ao país uma artista que falava de sentimentos pelo olhar das mulheres.
Angela Ro Ro foi pioneira ao assumir publicamente sua sexualidade em um período conservador, tornando-se referência de autenticidade e resistência. Com uma voz rouca e potente, misturava blues, samba-canção, bolero e rock, criando um estilo único que conquistou público e crítica. Ao longo da carreira, lançou mais de dez álbuns e colaborou com grandes nomes da música brasileira, como Maria Bethânia e Cazuza.
Nos últimos meses, Angela enfrentava dificuldades financeiras e chegou a pedir doações para custear tratamentos médicos. Sem aposentadoria, vivia com cerca de R$ 800 mensais provenientes de direitos autorais, contando com o apoio de fãs e amigos para lidar com os gastos.
A morte de Angela Ro Ro deixa uma lacuna na cultura brasileira, mas seu legado permanece vivo nas canções intensas, na postura irreverente e na coragem de ser quem era. Sua trajetória será eternizada não apenas na música, mas também em um documentário em fase de finalização, que promete celebrar sua vida e obra.
