Quando Hugo Possolo assumiu a direção do Teatro Municipal em fevereiro do ano passado, muito se pensou sobre qual a relação de um palhaço com um templo de uma arte clássica.
O projeto Novos Modernistas, lançado naquele período, em referência à Semana da Arte de 22, parecer ter aberto o caminho de pensamento e ação para o atual secretário municipal de Cultura, em tempos de pandemia. Em meados de março, ele assumiu o posto no lugar de Alê Youssef, que agora integra o gabinete executivo do prefeito Bruno Covas. "Acredito que a arte vai retomar uma característica híbrida, ao estilo dos modernistas, agora com a internet", disse em entrevista ao <b>Estadão</b>.
Antes do confinamento, ele conta que teve que passar por uma rápida integração. Não porque viesse de outras bandas, já que defende "um trabalho de continuidade", mas por conta da chegada da pandemia na capital e o impacto no segmento.
"Fechamos os teatros distritais, casas de cultura e espaços culturais, mas havia uma programação inteira para tocar."
Desde o ano passado, a nova gestão vinha lotando teatros que há algum tempo não eram centrais nem na oferta de programação, nem na geografia da capital. Esse entendimento, de que há locais mais vulneráveis que outros, conduziu o pensamento nesse confinamento. A SMC lançou uma série de editais nos últimos meses e o retorno dos inscritos serviu de panorama para o impacto da pandemia. "Há cerca 400 a 500 espaços independentes na capital, e eles sempre correndo riscos. Agora ainda mais", diz. "A vulnerabilidade sempre acompanhou o artista periférico."
No entanto, uns dos chamamentos, intitulado Janelas de São Paulo, segue impedido de contratar artistas. O edital foi suspenso em março pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que acatou parcialmente uma liminar que contestava o valor de R$ 10 milhões para ações culturais em janelas. De acordo com a decisão, "ajudar a classe artística deve ser ponderado do ponto de vista orçamentário, com o fato de que outras classes profissionais igualmente demandarão auxílio." Para Possolo, trata-se de um "movimento conservador". "Há um discurso que trata o artista como usurpador do governo." De acordo com o secretário, a origem dos recursos para o edital era privada. A SMC seria intermediadora dos recursos, em parceria com duas empresas privadas – uma delas, Possolo não quis citar, a outra trata-se de uma concessionária de telefonia e internet no País. "Depois da repercussão, as patrocinadoras preferiram se afastar", relata.
Em 2018, ocorreu algo semelhante. Um parecer da SMC sob a gestão do então secretário André Sturm alterou o entendimento da Lei de Fomento ao Teatro e o Ministério Público estadual abriu um inquérito civil para investigar um suposto caso de lobby. A edição do edital de pesquisa teatral contínua só pôde ser retomada no primeiro semestre de 2019.
Em franca oposição ao governo federal, a SMC do governo Bruno Covas já se posicionava com Youssef na secretaria. O mesmo se dá com Possolo. Ele acredita que São Paulo tem limitações para conduzir algumas políticas culturais na capital, e crítica a falta de cooperação em relação ao trabalho na esfera da Secretaria Especial de Cultura, atualmente alocada no Ministério do Turismo. "Antes de a Regina Duarte deixar a secretaria, ela foi cobrada sobre o Fundo Nacional de Cultura e o Fundo do Audiovisual, que estão paralisados. São Paulo não dá conta sozinha."
No dia 4 de junho, o Senado Federal votou a Lei Aldir Blanc de suporte emergencial que transfere R$ 3 bilhões para estados e municípios, destinados aos trabalhadores da Cultura. O projeto seguiu para sanção do presidente Jair Bolsonaro. "É preciso pensar soluções e alternativas para que os artista", afirma Possolo. "Sem incentivo, a indústria automotiva ou de produção trigo, por exemplos, não sobrevivem. A Cultura tem seu lugar na economia e não há perspectiva de retorno, mas de um novo horizonte."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>