Pouco mais de quatro meses depois de paralisado, o circuito profissional de tênis retornará nesta segunda-feira. As mulheres vão voltar antes dos homens e competirão no saibro do Torneio de Palermo, na Itália, curiosamente um dos países mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus na Europa. Mesmo com restrições, a competição italiana contará com a presença de torcedores.
O circuito estava interrompido desde metade de março, quando a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) e a Associação do Tênis Feminino (WTA) decidiram suspender as competições devido à pandemia. Os rankings foram congelados – serão restabelecidos com mudanças – e os tenistas precisaram entrar em férias forçadas, apesar de exibições pontuais, sendo a mais famosa a organizada por Novak Djokovic, que resultou em quase dez casos de covid-19.
O aguardado retorno do circuito, contudo, não será como o esperado. A organização do Torneio de Palermo contava com tenistas de peso em suas quadras, mas a romena Simona Halep, atual número dois do mundo, desistiu e a chave não terá atletas do Top 10. O evento deve ter apenas três jogadoras do Top 20.
Quem entrar em quadra será acompanhada por cerca de 300 torcedores. As arquibancadas de Palermo podem receber até 1.500 fãs de tênis, mas a organização reduziu a capacidade para se adequar às regras de distanciamento social impostas pela WTA. A entidade vai exigir também máscaras e higienização constante da infraestrutura para evitar contaminações. Exames começaram a ser feitos na semana passada.
"Acho que é difícil saber agora se este é o momento certo para voltar o circuito, só vamos saber depois. O que tenho certeza é que a WTA está colocando muitas restrições e protocolos de segurança bem restritos durante as semanas dos torneios. E isso me tranquiliza um pouco, apesar de que vai ser um ambiente muito diferente estar nos torneios assim", avalia a brasileira Luisa Stefani, em entrevista ao Estadão.
Destaque nas duplas, Stefani vai fazer como grande parte da elite do tênis feminino e voltar a jogar somente em Lexington, nos Estados Unidos. O torneio em quadra dura, com início no dia 10, vai reunir tenistas como as irmãs Serena e Venus Williams. E será preparatório para o US Open, o primeiro Grand Slam a ser disputado após a paralisação do circuito, no dia 31 de agosto.
A grande competição, em Nova York, gera polêmicas no mundo do tênis. Jogadores, como o suíço Roger Federer, e autoridades ligadas à modalidade já se disseram contra a realização do torneio neste momento, em razão dos riscos envolvidos. Nas últimas semanas, os EUA voltaram a apresentar pico de infectados, o que assustou tenistas e treinadores.
"Eu não diria que não estou preocupada em contrair a covid-19, mas ao mesmo tempo com certeza vou tomar o máximo de cuidado possível", disse Stefani, que pretende jogar tanto o US Open quanto o Torneio de Cincinnati, a partir do dia 22. Principal tenista do País, Beatriz Haddad Maia ainda não anunciou seu calendário.
MASCULINO – Para os homens, o retorno do circuito acontecerá justamente com o Masters de Cincinnati, que desta vez será disputado em Nova York, numa tentativa da ATP e da WTA de criar uma "bolha" na cidade, como fez a NBA em Orlando. O sérvio Novak Djokovic e o espanhol Rafael Nadal já indicaram que pretendem jogar na quadra dura de Cincinnati – Federer só voltará a jogar em 2021.
Os brasileiros também pretendem jogar o primeiro Masters 1000 do ano. Thiago Monteiro e Thiago Wild já têm data marcada para viajar: dia 17. Bruno Soares e Marcelo Melo devem encarar Cincinnati como preparação para o US Open. Todos terão acesso aos EUA com ajuda de uma carta enviada pela ATP para facilitar os trâmites na entrada. Com a recente alta de casos de covid-19, o país impôs restrições a viajantes de diversos países, incluindo o Brasil.
Mesmo com a preocupação constante com o risco de contaminação, os EUA sediaram ao menos dois torneios de exibição nos últimos meses. O All American Team Cup e o World Team Tennis (WTT) foram os que chamaram mais atenção. Também houve a Batalha dos Britânicos, em Londres, o Ultimate Tennis Showdown, na França, e o controverso Adria Tour, com partidas na Sérvia e na Croácia, neste período de interrupção do circuito profissional.
Organizado por Djokovic, o Adria Tour ganhou as manchetes do mundo todo por lotar arquibancadas de torcedores sem qualquer preocupação com o distanciamento social. Sem falar em eventos de patrocinadores, com crianças e adolescentes e até baladas com os principais tenistas das exibições. Djokovic e sua esposa contraíram o vírus, mas se recuperaram, assim como o búlgaro Grigor Dimitrov, o croata Borna Coric e o sérvio Viktor Troicki.