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Em meio a denúncias e acordos não cumpridos, ACE Guarulhos tem eleições suspensas pela Justiça

Decisão da 3ª Vara Cível da Comarca de Guarulhos, em caráter liminar, suspendeu as eleições da nova diretoria da ACE Guarulhos, marcadas para o próximo dia 28

A Associação Comercial e Empresarial (ACE) Guarulhos vive dias de incerteza quanto a seu futuro. Denúncias de má gestão, de tentativa de eternização no poder por parte da atual diretoria, além de acordos não cumpridos, formam o pano de fundo, que culminaram na suspensão pela Justiça das eleições que ocorreriam no próximo dia 28 de novembro. Diante do imbróglio, há a possiblidade de um interventor ser nomeado para gerir a entidade na cidade.

Os problemas que culminaram na semana passada com uma liminar suspendendo o processo sucessório, concedida pelo juiz Fábio Alves da Motta, da 3ª Vara Cível da Comarca de Guarulhos, em favor do associado Controller Administradora de Condomínio Ltda começaram há mais de cinco anos, quando o atual grupo que controla a entidade neste período chegou ao poder. Neste momento, o presidente Sílvio Alves lidera a nova chapa que busca o terceiro mandato, graças a mudanças de estatuto aprovada neste ano, sob protesto de opositores e parte da diretoria.

Os estatutos da entidade previam mandatos de dois anos com a possiblidade de apenas uma reeleição. No entanto, o grupo de Sílvio conseguiu aprovar algo que tinha sido expurgado da entidade ainda nos anos 90, quando ainda era possível reeleições sem limites, o que – na opinião de ex-presidentes – fere a democracia, já que evita a alternância de poder.

Com o final do mandato de Wiliam Paneque em 2019, a diretoria, por consenso, indicou o nome de Vilson Caldas para sucede-lo. No entanto, devido a alguns problemas de documentação no momento de inscrição da chapa e para evitar atrasos no processo, ele não reunia condições para o registro. Desta forma, alçaram o então vice Silvio ao cargo maior, mediante um acordo que teria sido apalavrado com os ex-presidentes que ele abriria mão do cargo em favor de Vilson assim que ele regularizasse a situação em até seis meses.

No entanto, o acordo não foi cumprido. E para piorar, Vilson Caldas veio a falecer meses depois de forma inesperada, em agosto de 2020, deixando Silvio livre do acordo firmado com seus apoiadores.  Como era momento de pandemia, não houve questionamentos à época e tudo permaneceu como estava.  Ele ainda foi reeleito para um segundo mandato, que se iniciou em 2022.

Mas, para surpresa de alguns diretores e ex-presidentes da ACE, em 2023, Sílvio promoveu uma mudança no estatuto, garantindo um ano a mais no segundo mandato, sob a alegação que a pandemia do coronavírus, a partir de 2020, atrapalhou a condução de seu trabalho à frente da entidade, o que foi aprovado em assembleia. Desta forma, Silvio garantiu pelo menos 5 anos à frente da entidade para um mandato que se encerra no final deste ano..

Agora em 2025, uma nova mudança no estatuto permitiu que Silvio concorresse a novas gestões. Em meio à muita controvérsia, uma assembleia realizada em agosto garantiu a mudança que possibilita a perpetuação no poder, algo que não ocorria há 25 anos. Luís Roberto Mesquita foi o último que ficou 6 anos no cargo, entre 1996 e 2001. Desde então todos ex-presidentes permaneceram no máximo dois mandatos de dois anos cada.

Denúncias

Documentos obtidos pelo GWEB, que incluem balanços financeiros e atas, demonstram que a ACE Guarulhos passa por graves problemas financeiros. O déficit nas contas em setembro já atingia cerca de R$ 600 mil, valor que seria de difícil recuperação até o final deste ano.

Opositores à atual gestão também denunciam que houve associação de empresas de outros municípios, o que feriria o estatuto da entidade, mas que garantiria votos para Sílvio seguir no poder. Hoje a ACE vive de patrocínios a seus eventos, que se tornaram comuns, como forma de promoção da atual diretoria, segundo alegam ex-presidentes ouvidos pela reportagem. “Tudo é feito para promover o presidente. Nunca permitimos isso”, declarou Wilson Lourenço, presidente da ACE entre 2007 e 2011.

Diante da suspensão das eleições, a ACE se manifestou em uma carta aberta aos associados, que foi postada nas redes sociais da entidade. Mais uma vez, houve protesto por parte dos opositores, já que houve bloqueio para comentários. “O ponto que chama atenção não é o conteúdo da nota, mas o fato de que os comentários foram bloqueados. Ou seja: fala-se ao associado, mas impede-se que o associado fale de volta”, comentaram em nota enviada ao GWEB.

Veja a íntegra da manifestação da ACE, diante da suspensão das eleições:

COMUNICADO AOS ASSOCIADOS
A Associação Comercial e Empresarial de Guarulhos (ACE-Guarulhos) informa que recebeu, na data de hoje, decisão provisória proferida pela 3ª Vara Cível da Comarca de Guarulhos, no âmbito do processo nº 4017061-36.2025.8.26.0224, que determinou a suspensão temporária do processo eleitoral previamente agendado para o dia 28 de novembro de 2025 .
Trata-se de medida de natureza liminar, ainda sujeita à análise definitiva pelo Poder Judiciário. A ACE-Guarulhos esclarece que sempre pautou suas ações pela transparência, legalidade e respeito aos seus associados, valores que também norteiam todo o processo eleitoral.
Diante da decisão, a Associação adotará todas as providências jurídicas necessárias para prestar esclarecimentos ao Juízo e promover os ajustes indicados, assegurando que o processo eleitoral transcorra com absoluta regularidade, segurança e plena conformidade estatutária.
Reforçamos que a entidade permanece à disposição das chapas inscritas, dos associados e de toda a comunidade empresarial para prestar informações e garantir a continuidade dos trabalhos institucionais com serenidade, equilíbrio e responsabilidade.
Novas atualizações serão divulgadas pelos canais oficiais da ACE-Guarulhos assim que houver avanço no processo.
ACE-Guarulhos
Compromisso com a transparência e com o associativismo empresarial.