Alunos da Escola da Prefeitura de Guarulhos EPG Paulo Freire, no Cidade Soberana, tiveram uma surpresa quando chegaram para assistir as aulas na manhã desta segunda-feira. Os muros do estabelecimento de ensino estavam todos azuis. Os desenhos feitos pelos alunos em 2023 e reproduzidos pelos artistas Fernando Manuel e Drik Morenah desapareceram. A iniciativa ganhou repercussão na cidade e chegou à grande mídia, destacando o vínculo entre a escola, os alunos, as famílias e a vizinhança.


Na última sexta-feira (14), os murais começaram a ser pintados com o azul que marca a gestão do prefeito Lucas Sanches (PL), que passou a utilizar as cores de seu partido nos próprios municipais. A mudança não teve qualquer comunicação prévia à comunidade.
O GWEB esteve no local nesta segunda-feira, quando alunos e moradores viram o resultado pela primeira vez.
Entre os estudantes, houve relato de frustração. Raul Antônio, 9 anos, aluno do 3º ano, participou da votação dos desenhos que foram para o muro. Ele conta que, ao chegar para as aulas, encontrou a pintura substituída: “Sumiu tudo. Eu mesmo votei num dos desenhos. Era bonito, a gente gostava porque foi a gente que fez. Podia pintar do lado se quisessem colocar azul. Mas não apagar.” Segundo ele, outros colegas também “ficaram bem chateados”.
“É uma falta de respeito com os desenhos das crianças. Elas ficaram motivadas, saíram na televisão, mostraram para a família. Era parte da história delas”, disse um morador do bairro que não quis se identificar temendo represálias. Ele afirma que não é contrário à revitalização do espaço: “Poderiam ter chamado os artistas, reforçado as cores, dado vida de novo. Mas apagar… aí fica difícil.”
Roberto Mariano, aposentado e vizinho da escola, relatou que o trabalho começou após a saída dos estudantes na sexta-feira: “Vieram de sopetão, depois que as crianças saíram. Hoje elas chegaram e não sabiam o que tinha acontecido. Um trabalho que levou um mês para ser feito foi apagado numa pincelada.”

Outros moradores apontaram falta de diálogo. “Esse governo não pergunta para quem pertence ao território. Passa por cima igual caminhão sem freio na ladeira”, afirmou um entrevistado. A padronização das novas cores também foi questionada: “A pergunta é quem é o dono da empresa que tem esse pigmento todo. Dizem que é doação… esse prefeito é um sujeito de sorte”, disse outro morador.
Uma das pessoas ouvidas pela reportagem resumiu o sentimento de parte da comunidade: “Eles plantaram a ira, mas não o esquecimento. Isso não vai ser apagado.”


