Cidades

Entenda o reajuste das tarifas em Guarulhos dado por Lucas; Justiça não obrigou aumento para R$ 6,20

Alta de 21,5% foi decisão do prefeito Lucas Sanches (PL); sentença determinou apenas unificação da tarifa, não o valor cobrado do usuário

O reajuste de 21,5% na tarifa de ônibus em Guarulhos, que elevou o valor da passagem para R$ 6,20 a partir de 1º de janeiro de 2026, não foi imposto pela Justiça, ao contrário do que tem sido difundido em algumas explicações oficiais. A análise do decreto municipal e da decisão judicial citada pela Prefeitura mostra que o Judiciário não determinou o aumento nem fixou o valor da tarifa, mas apenas exigiu a unificação dos preços cobrados dos usuários.

Ou seja, a definição do novo valor foi uma opção administrativa do governo Lucas Sanches.

O que a Justiça realmente determinou

A decisão judicial citada no decreto municipal, no processo nº 1038557-12.2024.8.26.0224, tratou de um ponto específico:
a isonomia no tratamento dos usuários do transporte coletivo, determinando que o município unificasse os valores da tarifa, eliminando diferenças entre pagamento em dinheiro, cartão comum ou outras modalidades — com exceção dos descontos previstos em lei, como o Cartão Escolar.

Em nenhum trecho da decisão há determinação para:

  • aumento da tarifa;

  • fixação do valor em R$ 6,20;

  • percentual mínimo de reajuste.

A Justiça não obrigou a Prefeitura a elevar a passagem, tampouco definiu quanto o usuário deveria pagar.

Reajuste foi escolha da Prefeitura

Mesmo reconhecendo que o custo real do sistema chegou a R$ 8,49 por passageiro equivalente, conforme planilha apresentada ao Conselho Municipal de Transportes e Trânsito (CMTT), a legislação federal permite que o município defina o valor da tarifa pública e subsidie parte do serviço, prática adotada em Guarulhos há anos.

Portanto, havia alternativas possíveis:

  • reajuste menor;

  • manutenção parcial do subsídio;

  • escalonamento do aumento;

  • ou até manutenção temporária do congelamento.

A opção pelo salto direto para R$ 6,20, representando alta de 21,5% de uma só vez, foi uma decisão política e administrativa, não uma imposição judicial.

Contraste com os últimos anos

O aumento chama ainda mais atenção quando comparado ao histórico recente do município. Entre 2017 e 2025, durante oito anos da gestão Guti, as tarifas de ônibus em Guarulhos tiveram reajuste acumulado de cerca de 13%, enquanto a inflação no mesmo período superou 40%.

Já sob a gestão Lucas Sanches, em apenas um ano, o reajuste supera 20%, tornando-se o maior aumento da tarifa de ônibus em mais de uma década na cidade.

Unificação não significa aumento automático

Especialistas em mobilidade urbana destacam que unificar tarifas não significa, obrigatoriamente, aumentar preços. A unificação poderia ter ocorrido mantendo valores mais próximos aos praticados anteriormente, desde que respeitada a política de subsídios prevista na legislação.

Ao atrelar a decisão judicial diretamente ao reajuste elevado, a Prefeitura cria uma narrativa que não se sustenta tecnicamente à luz do próprio conteúdo da sentença.

Impacto direto no bolso do usuário

Com a nova tarifa, Guarulhos passa a figurar entre as cidades com passagem mais cara da Região Metropolitana, afetando diretamente trabalhadores, estudantes e famílias que dependem diariamente do transporte público.

Embora a Prefeitura mantenha o desconto de 50% para estudantes, fixando a meia-tarifa em R$ 3,10, o impacto do aumento cheio recai sobre a maior parte dos usuários do sistema.