Desafios de pensar a TV

Há um ano, José Roberto Maluf, 74 anos, assumia a presidência da Fundação Padre Anchieta, tendo como metas modernizar a TV Cultura, reconquistar seu público e elevar a audiência. Em entrevista ao Estadão, o executivo faz um balanço de seu período à frente da emissora, fala sobre o desafio de pensar o canal em meio a este momento de pandemia e o que terá de atrações nos próximos tempos. "É impossível pensar numa TV dissociada dos meios digitais", diz, sobre a alternativa da internet neste período de isolamento, que garante novos espectadores e que se firma como forma de produzir cultura. Veja a seguir os principais pontos da entrevista.

<b>Quais foram os maiores desafios do primeiro ano à frente da TV Cultura?</b>

Nos primeiros meses, o maior desafio foi colocar a casa em ordem, conhecer melhor os colaboradores, adotar providências administrativas, cortar custos e aumentar receitas, montar equipes profissionais para cuidar da casa, trazendo diretores que já trabalharam em televisão e rádio, e especialmente adotar as primeiras modificações em programas existentes e em alguns que foram lançados. A primeira ação foi uma modificação no Jornal da Cultura, com mudança de apresentadores, de cenários, figurinos, iluminação e trilha sonora. Em seguida, mexemos no Roda Viva, também com a mudança de apresentadores. Começamos com Daniela Lima e, a partir de janeiro, com Vera Magalhães. Profissionalizamos todas as áreas possíveis dentro da empresa e estamos, ainda, adotando providências para fazer com que tudo esteja debaixo de poucos guarda-chuvas, da programação, da produção, da engenharia; e o vice-presidente Carlito Camargo toma conta da operação diária.

<b>Em meio à pandemia, com todos em casa, como a TV Cultura trabalhou sua adaptação?</b>

Desde o início, afastamos grande parte dos nossos colaboradores, que ficaram em casa, especialmente aqueles com mais de 60 anos e de grupos de risco, atendendo à orientação da OMS e aos decretos governamentais. Devido à pandemia, nós paramos quase que integralmente as gravações dos programas, com exceção dos jornalísticos, que ganharam ainda mais força. E agora estamos retomando gravações de alguns programas da grade, e outros começam a ser produzidos. De verdade, nada foi perdido. Nós só adiamos a produção de alguns programas porque não tínhamos gente suficiente para trabalhar durante a quarentena. Ainda assim, nessa época de isolamento social, diversos programas da Cultura estiveram ativos por meio de eventos digitais, como Talentos, Cultura Livre, Quintal da Cultura e Papo de Mãe. Além disso, atrações como #Provoca e Roda Viva continuaram com produção e exibição normais e, em alguns casos, a gravar remotamente.

<b>Como foi realizar a entrada da TV Cultura no mundo do streaming, redes sociais, YouTube?</b>

No último ano, expandimos nossa presença no universo digital e conquistamos milhões de inscritos no YouTube. Nós aproveitamos este período para aquecer os programas no digital, que logo estarão de volta à TV. E esse é um caminho que seguiremos, sem volta. É impossível pensar numa TV dissociada dos meios digitais. Quanto ao streaming, em breve, disponibilizaremos quatro canais: a TV Cultura, com uma programação diferente da TV aberta; TV Rá Tim Bum, que também difere do conteúdo da TV por assinatura; a TV Sala São Paulo, com programação de todas as gravações feitas pela TV Cultura de concertos da Osesp; e a TV Jazz Sinfônica, com apresentações da orquestra em todo o País.

<b>O que terá de novidades na programação?</b>

Em julho, começamos a gravar o Talentos, com Jarbas Homem de Mello, que estreia em agosto. Para atrair o público jovem, dos 11 aos 25 anos, estrearemos um programa sobre games, apresentado também por jovens às quintas-feiras, às 19h45, que focará e trará todas as novidades sobre este universo. Também estamos produzindo um programa de educação em parceria com o Instituto Palavra Aberta. Ainda em julho, retornamos com as gravações do Persona e do Cultura Livre. No dia 6, volta ao ar o Metrópolis, totalmente reformulado, com uma linguagem moderna, leve, com pautas que já nascem lincadas com os meios digitais. Em julho e agosto, retomamos as transmissões esportivas, com o futebol feminino. Além disso, temos diversos outros programas em início de produção, que devem fazer parte da grade nos próximos meses, como o Contraponto, com João Marcello Bôscoli. Estamos preparando novas séries e longas documentais para exibição, incluindo um sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, dirigida por Laís Bodanzky; os 70 anos da televisão no Brasil, e a trajetória do compositor e poeta Paulo César Pinheiro.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

Posso ajudar?