O Ibovespa embalou uma série de máximas após a informação de resultados positivos de estudos preliminares de vacina experimental para o tratamento da covid-19 da Pfizer e da BioNTech. "Ajuda a melhorar a confiança", afirma o estrategista-chefe da Levante Ideias de Investimentos, Rafael Bevilacqua. "Mas essa melhora também tem um outro componente, que é o dado de emprego do setor privado nos EUA. Ainda que tenha vindo menor do que o esperado, houve geração, teve criação por dois meses seguidos", diz.
O principal índice à vista da B3 iniciou o segundo semestre com o pé direito, tentando buscar os 97 mil pontos. Na máxima, o indicador atingiu 96.851,75 pontos, embalado por essa mistura de dados e notícias, ainda que não tenha abandonado por completo a cautela neste momento de crise por conta da pandemia de coronavírus.
Porém, por enquanto, prefere avançar. O setor privado dos Estados Unidos criou 2,369 milhões de empregos em junho, segundo pesquisa ADP, ficando abaixo da expectativa de criação de 2,5 milhões de postos de trabalho no último mês. Já o dado de maio foi revisado de fechamento de 2,76 milhões de vagas para abertura de 3,065 milhões de vagas. O índice de atividade industrial dos país elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) subiu a 52,6 em junho, ante 43,1 em maio, ficando acima do esperado (49,5).
Conforme o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, o desempenho do emprego no setor privado norte-americano no mês passado menor que o esperado pode sinalizar uma pausa da retomada. Contudo, não sugere, por ora, que o processo de retomada tenha sido abortado.
Às 11h36, o Ibovespa subia 1,48%, aos 96.460,88 pontos. Em Nova York, o ganho máximo era de 0,57% (Nasdaq). "Aqui está mais esticado Ibovespa em função de fluxo entrando em fundos de ações, o que acaba por maximizar", diz um operador.
Já um estudo preliminar publicado hoje pelo MedRXiv aponta que a vacina experimental contra o novo coronavírus desenvolvida pela Pfizer em parceria com a BioNTech apresentou resultados positivos, com importantes respostas imunes em adultos saudáveis entre 18 e 55 anos. O MedRXiv é uma plataforma que disponibiliza estudos ainda não revisados ou publicados por revistas especializadas.
Antes mesmo dos dados nos EUA, dados da China reforçaram a tendência de retomada. Pesquisa da IHS Markit com a Caixin Media mostrou que o PMI da indústria chinesa subiu a 51,2 no mês passado, ante 50,7 em maio, atingindo o maior nível em seis meses e indicando que a manufatura da segunda maior economia do mundo se expande em ritmo mais forte, numa recuperação que vem após o violento impacto da covid-19.
Os resultados deixaram em segundo plano, pelo menos por ora, as preocupações com o crescimento nos casos pelo novo coronavírus nos EUA. Nos últimos dias, o país tem registrado mais de 40 mil casos pelo novo coronavírus a cada 24 horas. Ontem, o assessor de saúde da Casa Branca, Anthony Fauci, declarou que não ficaria surpreso se o número no país subisse para 100 mil casos por dia. No Brasil, ainda sem ministro da Saúde, já são 59.745 mortes pela doença.
Além de sinais de retomada econômica reforçado nos PMIs na China e na Europa hoje, no Brasil essa também tem sido a direção. Hoje, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que o Índice de Confiança Empresarial (ICE) subiu 14,9 pontos em junho ante maio, para 80,4 pontos, sucedendo um avanço de 9,8 pontos em maio. Em dois meses de altas consecutivas, o índice recupera 61% das perdas provocadas pela pandemia, embora ainda se mantenha em nível historicamente baixo.
Já o PMI industrial do País foi a 51,6 pontos no mês passado, após 38,3 pontos em maio, informou a IHS Markit. Foi o primeiro mês de crescimento desde fevereiro. Desde então, a pesquisa mostrava patamares baixos em função da crise desencadeada pelo coronavírus
Apesar dos níveis elevados de incerteza, começa a ganhar força no meio empresarial a percepção de que o pior momento pode já ter passado. "Com isso, as expectativas tornaram-se menos pessimistas, formando um cenário compatível com o de uma lenta retomada do nível de atividade econômica", avalia Aloisio Campelo Júnior, superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), em nota oficial.
"Mesmo quando avaliamos o Caged de junho, que mostrou destruição 331.901 de postos de trabalho, vemos sinal de arrefecimento da queda, de retomada", acrescenta o analista da Ativa Investimentos. Foi o pior resultado para o mês de maio desde o início da pesquisa, em 2010. Em relação a abril (saldo negativo de 902.841 vagas), porém, foi registrado uma desaceleração no número de vagas fechadas.